Com mais tempo do que Ciro no JN, Bolsonaro volta a confrontar a Globo
Mauricio Stycer
29/08/2018 00h32
No segundo dia de entrevistas do "Jornal Nacional" com os principais candidatos à Presidência, nesta terça-feira (28), Jair Bolsonaro teve um pouco mais de tempo para expor suas ideias do que Ciro Gomes, entrevistado na véspera.
Pelas minhas contas, o candidato do PSL falou por 17 minutos, um minuto e meio a mais que o candidato do PDT. Os apresentadores do JN fizeram intervenções mais curtas e ocuparam cerca de 10 minutos do tempo, contra 11 minutos e 30 da primeira entrevista.
Bolsonaro foi tão interrompido e questionado quanto Ciro, mas as observações e perguntas de William Bonner e Renata Vasconcellos foram mais curtas, dando mais espaço para o candidato falar.
Antes mesmo do início da entrevista, Bolsonaro deu sinais de que pretendia confrontar os apresentadores e a emissora. Fez o gesto de bater continência para Renata ao entrar no estúdio e logo disse: "Isso aqui tá parecendo uma plataforma de tiro de artilharia. Então, estou confortável aqui." O que levou Bonner a dizer: "Esteja certo que não é".
Em dois momentos que foi questionado sobre temas espinhosos, desviou do assunto provocando os apresentadores. Ao responder sobre auxílio-moradia, evocou o sistema de pagamento dos salários dos jornalistas: "Vão me desqualificar por ter recebido auxílio-moradia, que é legal, como a pejotização de vocês também é legal"
Pressionado por Renata sobre diferenças salariais entre homens e mulheres, observou: "Você vive em grande parte aqui de recursos da União. São bilhões que recebem o Sistema Globo da propaganda oficial do governo".
Em outros dois momentos, em respostas a questões levantadas por Bonner, fez menções sobre a sua vida privada e a do próprio apresentador.
A primeira vez, ao falar da ligação com o seu principal assessor econômico, Paulo Guedes: "Nós, Bonner, somos separados. Até o momento da nossa separação, nós não pensamos numa mulher reserva. Nós, quando casamos, Bonner, eu com a minha esposa, você com a sua, nós juramos fidelidade eterna. E aconteceu um problema no meio do caminho. Não cabe a ninguém discutir o assunto."
A segunda, ao falar das suas ideias sobre segurança pública: "Eu já fui vítima de violência. Você também, Bonner. Esse tipo de gente (os criminosos) você não pode tratar como se fosse um ser humano normal, uma vítima da violência".
Por fim, repetindo uma atitude adotada em entrevista na GloboNews no último dia 3, Bolsonaro reagiu às críticas de que apoia a ditadura militar lembrando que a Globo também apoiou. "Deixo os historiadores pra lá. Eu fico com Roberto Marinho", disse. "Roberto Marinho é um democrata ou um ditador?", acrescentou. Ao final do telejornal, Bonner leu uma nota lembrando que a Globo hoje considera um erro o apoio dado ao golpe de 1964.
Atualizado em 29/8: Ao final do JN de quarta-feira (29), Bonner leu uma nota oficial da Globo, respondendo a um comentário feito por Bolsonaro na véspera. "Você vive em grande parte aqui de recursos da União. São bilhões que recebem o Sistema Globo da propaganda oficial do governo", disse o candidato. O apresentador respondeu: "É uma afirmação absolutamente falsa. A propaganda oficial do governo federal, e de suas empresas estatais, corresponde a menos de 4% das receitas publicitárias e nem remotamente chega à casa do bilhão. Os anunciantes, privados ou públicos, reconhecem na TV Globo uma programação de qualidade, prestigiada por enorme audiência, e por isso se valem dela para levar ao público mensagens sobre seus serviços e produtos. Fazemos esse esclarecimento por apreço à verdade, ao nosso público e aos nossos anunciantes."
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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