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As 5 entrevistas do JN obedeceram ao mesmo conceito errado e foram inúteis

Mauricio Stycer

17/09/2018 14h04

Com exceção da entrevista com Marina, Bonner e Renata ocuparam cerca de 40% do tempo nos encontros com os outros candidatos


Assisti com atenção às cinco entrevistas do "Jornal Nacional" com os candidatos à Presidência e acho que, em essência, foram muito parecidas. Escrevi a respeito de todas (os links estão no pé deste texto). Não concordo com a avaliação de que a de Fernando Haddad (PT) tenha sido a "pior", que o candidato tenha sido o mais prejudicado.

O tom foi o mesmo em quatro delas. Só a entrevista com Marina (Rede) foi "amena" – e a menos "polêmica" ou mais desinteressante. Com exceção desta, os entrevistadores ocuparam cerca de 40% do tempo das entrevistas em todos os encontros – um percentual totalmente fora da curva em entrevistas.

Segundo levantamento do FW SPOT Pesquisa de Mídia, a participação de William Bonner e Renata Vasconcellos oscilou entre 36,5% e 41% do tempo total. Assim:

Marina – 36,5%
Bolsonaro – 38,8%
Alckmin – 39,6%
Ciro – 40,4%
Haddad – 41%

Como a entrevista com o candidato do PT foi quase três minutos mais longa, ele acabou falando até mais do que alguns dos seus rivais. Veja o total que cada candidato teve, segundo este levantamento:

Marina: 18:06 minutos
Haddad: 16:55
Alckmin: 16:22
Bolsonaro: 16:09
Ciro: 16:00

Mais de 80% do tempo, talvez 90%, foi gasto, em todas, com questionamentos visando mostrar contradições, expor problemas e tentar arrancar reconhecimentos de erros dos candidatos. Quase nada sobre propostas e ideias para governar o país.

É até difícil caracterizar como entrevista o que vimos. Os encontros lembraram mais debates, duelos ou interrogatórios. Os apresentadores pareciam imbuídos de uma missão: desmascarar os presidenciáveis. Isso explica, acho, um certo ar de superioridade da dupla. Não estavam lá com a genuína curiosidade de jornalistas, mas como missionários, destinados a expor fraquezas dos políticos.

É missão do jornalismo revelar problemas, apontar contradições, desmascarar fraudes, denunciar crimes, dar visibilidade a mau uso de recursos públicos etc etc. Mas esta função se realiza muito mais plenamente pela reportagem bem apurada, pela pesquisa e pela investigação, não pela arguição pública, em tom professoral, em meio a uma entrevista, na televisão.

Fatos desabonadores descobertos por jornalistas podem ajudar muito, de várias maneiras (não preciso elencar aqui), a solucionar ou evitar problemas. Palavras reproduzidas ao vento, em tom grave, apenas constrangem.

Ciro, Bolsonaro e Haddad, em especial os dois últimos, não aceitaram passivamente o tom que a dupla de apresentadores tentou impor. Reagiram às interrupções, bateram boca e foram irônicos.

Os candidatos do PSL e do PT usaram estratégia semelhante: reagir à pressão falando da própria Globo. A tática acabou se revelando a melhor, na visão das respectivas militâncias. E acho, diante do modelo das entrevistas, que não fizeram algo que se possa recriminar.

O "Jornal Nacional" é o principal telejornal do país, com uma audiência importante em termos nacionais. Oferecer 27 minutos de tempo para uma entrevista com um candidato à Presidência é atraente, mas a forma escolhida para fazer isso não foi nada boa. Estes interrogatórios, na minha opinião, apenas reforçaram um discurso negativo e destrutivo contra políticos e a política, de uma maneira geral.

Às vezes, entrevistas do JN com candidatos lembraram interrogatórios

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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