Roteiro do especial de Roberto na Globo está pronto no Excel há décadas
Mauricio Stycer
22/12/2018 00h59
"É dia de renovar a tradição e se emocionar com o Rei", prometeu a chamada da Globo para o especial "RC Muito Romântico". Era um alerta ao espectador que ele deveria esperar por alguma novidade em meio ao show de sempre. Até me animei. Mas não era verdade.
Não houve nada de novo no enésimo especial de Roberto Carlos na Globo. Nada mesmo. Para começo de conversa, o cantor não demonstra, já há décadas, interesse algum em oferecer algo diferente da receita de todo Natal. Funciona, e ele gosta.
Mal entra em cena, já manda um protocolar "Que prazer rever vocês… Falar de amor é o meu negócio". Com a naturalidade de um narrador de telejornal, o Rei lê o texto no teleprompter. E canta Caetano: "Tudo em volta está deserto, tudo certo, como dois e dois são cinco".
O mercado – público e anunciantes – também não quer nada de novo. Isso mais uma vez foi demonstrado pelo número de patrocinadores (três) e de intervalos comerciais (quatro) em cerca de 90 minutos de programa. Os números prévios de audiência indicam, igualmente, que não faltou público para o Rei na noite desta sexta-feira (22).
No Excel do roteirista constam os seguintes itens a incluir em todo especial dos últimos 30 anos: um sertanejo (Michel Teló), um cantor romântico (Alejandro Sanz), uma boa cantora das antigas (Zizi Possi), uma atriz da Globo em evidência (Marina Ruy Barbosa), uma piadinha sobre a época da Jovem Guarda ("Quando apareceu a progressiva… por que não foi na época da Jovem Guarda? A gente fazia touca") e uma homenagem (ao filho, Dudu, que tocou bateria, com sua banda).
Roberto disse que não podia cantar Humilde Residência olhando para Teló; então convidou duas dançarinas
Até mesmo a piada politicamente incorreta, machista, faz parte do roteiro. Antes de "Humilde Residência", na qual Teló se dirige a uma mulher ("Vou te esperar / Na minha humilde residência / Pra gente fazer amor"), Roberto disse que precisava chamar duas dançarinas porque não poderia cantar olhando para o parceiro.
Não faltou nenhum item, enfim.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
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