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O presidente do país considera que a Globo é sua “inimiga”

Mauricio Stycer

24/02/2019 05h01

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A semana foi marcada pelo vazamento de áudios de mensagens trocadas pelo presidente Jair Bolsonaro e o seu então ministro Gustavo Bebianno. Você deve estar se perguntando: o que um assunto de política está fazendo em uma newsletter sobre televisão? Já explico: uma das mensagens deixou muito clara a forma como o presidente enxerga as grandes redes de TV.

Bolsonaro exigiu que o então ministro da Secretaria-Geral de governo cancelasse uma reunião agendada com Paulo Tonet Camargo, vice-presidente de relações institucionais do Grupo Globo. Por quê? "Gustavo, o que eu acho desse cara da Globo dentro do Palácio do Planalto? Eu não quero ele aí dentro. Qual a mensagem que vai dar para as outras emissoras? Que nós estamos se aproximando da Globo."

Por que o presidente tem esta preocupação? Não ficou claro. Mas, ao noticiarem o vazamento do áudio, SBT, Band e RedeTV! não mencionaram este trecho da fala de Bolsonaro.

Na continuação do áudio, o presidente diz a Bebianno: "Inimigo passivo, sim. Mas trazer o inimigo para dentro de casa é outra história", diz, referindo-se à Globo. "Fica complicado a gente ter um relacionamento legal dessa forma porque cê tá trazendo o maior cara que me ferrou – antes, durante, agora e após a campanha – para dentro de casa", acrescentou.

Ou seja, o presidente enxerga a principal emissora do país como "inimiga" e considera que ela o "ferrou" em diferentes momentos. A Globo apressou-se em responder. "O Grupo Globo considera que não tem nem cultiva inimigos. A própria natureza de sua atividade jamais permitiria qualquer postura em contrário".

Após a demissão de Bebianno ser confirmada, Bolsonaro gravou um vídeo com elogios ao ex-ministro. Enviado à imprensa, o vídeo em que ele faz um reconhecimento ao papel do ex-assessor na campanha não foi postado, porém, nas redes sociais do presidente nem pelos sites recomendados por ele como fontes confiáveis de informação.

Vale acompanhar os próximos movimentos do presidente e, não menos importante, das emissoras de TV.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.