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Erros e excessos da cobertura da tragédia são minoria, mas imperdoáveis

Mauricio Stycer

13/03/2019 22h46

Coberturas de tragédias como a ocorrida na manhã desta quarta-feira (13) em Suzano (SP) são sempre muito difíceis e delicadas. Ao vivo, durante horas, tratando de um drama terrível, como a morte violenta de crianças dentro de uma escola, é inevitável – e até aceitável – tropeçar aqui ou ali. Mas há limites que, uma vez ultrapassados, acabam manchando o trabalho.

De tudo que consegui ver nesta quarta, eu diria que a TV aberta se saiu bem no trabalho. Mas alguns erros e exageros, inaceitáveis, vão ser mais lembrados do que os acertos. É assim mesmo.

Saber distinguir o limite entre o interesse público e a invasão de privacidade em momentos de jornalismo ao vivo não é fácil. Em situações dramáticas como a tragédia de Suzano, as escorregadas são ainda mais terríveis e imperdoáveis. O vídeo em que um repórter da Band News persegue e constrange a mãe de um dos assassinos é um momento que envergonha quem assiste.

Às vezes, o sangue frio necessário para decidir o que é aceitável mostrar fica em segundo plano diante da apelação em busca de audiência. Só isso pode explicar a decisão do "Brasil Urgente" de mostrar, ainda durante o dia, em horário inapropriado, um dos criminosos atirar em direção a funcionários e alunos na entrada da escola.

O vídeo, registrado por câmera de segurança da escola, foi exibido três vezes em sequência, com paradas, pedidas por José Luiz Datena, para examinar detalhes mórbidos. Curiosamente, a emissora teve o pudor de congelar o vídeo no momento em que o outro assassino completa o trabalho a golpes de machado. Tiros, ok. Machadadas, não.

Outros telejornais, da Record e da Globo, também exibiram trechos deste vídeo, mas de forma muito mais editada e compacta. À noite, o UOL também publicou estas imagens, com a advertência que mostram "imagens fortes".

A pressão para entrar ao vivo e a pressa deixaram uma repórter do SBT em situação constrangedora no início da cobertura. O vídeo em que tenta entrevistar qualquer pessoa, desesperadamente, sendo rejeitada ou ignorada, já viralizou. Acho o caso menos grave que a decisão da emissora de interromper a cobertura do jornalístico matinal que exibia o caso para mostrar o programa infantil "Bom Dia & Cia". Isso sim é ter prioridades.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.