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Leo Dias chama jornalistas de preguiçosos e diz: “Só volto se o SBT quiser”

Mauricio Stycer

01/06/2019 05h01

Por trás da discussão entre os participantes do "Fofocalizando", exibida no programa de quinta-feira (30), existe uma questão séria sobre jornalismo de celebridades. Foi isso que Leo Dias tentou apontar, sem muito sucesso. Chateado com a repercussão do caso, resolveu se afastar temporariamente do programa.

O jornalista se incomodou, com razão, com a divulgação na tela do programa de uma mensagem ofensiva a Xuxa e Sasha, escrita por um hater não-identificado. A justificativa para mostrar a ofensa foi o fato de Beth Szafir, ex-sogra de Xuxa, ter "curtido" a mensagem.

Ora, argumentou no ar, "a gente não deveria mostrar certos comentários de pessoas X, que a gente nem sabe quem são. Nós temos a responsabilidade de tudo que vai ao ar, o telespectador não precisa ouvir palavras chulas".

A crítica foi mal recebida e refutada pela colega Livia Andrade. "A gente está todo dia aqui mostrando coisas absurdas", justificou.

De cabeça fria, Leo Dias, que também é colunista do UOL, escreveu um texto sobre o episódio e me mostrou. Achei que levanta questões importantes e merece ser publicado.

Em primeiro lugar, ele constata uma questão fundamental: "A internet virou uma terra de ódio e ofensas e a televisão não pode e não deve ser uma extensão disso. Jamais!"

Em seguida, faz uma crítica muito pertinente ao jornalismo de celebridades praticado não apenas pelo seu programa, no SBT, mas por todos os veículos. "Os jornalistas viraram reféns das redes sociais. Viraram um bando de preguiçosos".

Ele observa, ainda, que o seu trabalho depende de liberdade de expressão. E lembra que já fez, em edições do Troféu Imprensa, críticas abertas ao próprio Silvio Santos.

Por fim, diz Leo Dias: "O Brasil precisa aprender a lidar com opiniões discordantes. Eu não sou o certo. Só expus a minha opinião. E merecia ser respeitado. Vou ali esfriar a cabeça e já volto. Se o SBT quiser, lógico".

A televisão não pode ser uma extensão dos ódios da internet
(a íntegra do texto do jornalista)

"Sei que devo satisfações ao público do 'Fofocalizando' e, principalmente, ao senhor Silvio Santos. Por isso resolvi escrever esse texto para explicar o que houve na última quinta-feira durante o programa. Após uma reportagem sobre curtidas na internet de um texto ofensivo referindo-se a Sasha e a Xuxa, resolvi criticar a exposição de palavras sobre elas. Uma delas, por exemplo, dava a entender que a Sasha é drogada. Aquilo realmente me revoltou. E critiquei, sim, a produção do programa que expôs uma mensagem aleatória de um desconhecido para ofender uma pessoa.

A internet virou uma terra de ódio e ofensas e a televisão não pode e não deve ser uma extensão disso. Jamais!

No intervalo comercial do 'Fofocalizando' fui duramente criticado por todos da equipe, que disseram que eu não poderia ter dito aquilo no ar. Apenas nos bastidores. Mas…. pera lá !!! Eu sou a mesma pessoa na frente das câmeras e por trás delas. Eu expus todas as minhas mazelas publicamente. A minha dor maior é pública. Por que eu não posso expor a minha opinião em frente às câmeras?

Quero aqui também fazer uma dura crítica ao jornalismo de celebridades. Não me refiro apenas ao 'Fofocalizando', mas a TODOS os veículos. Os jornalistas viraram reféns das redes sociais. Viraram um bando de preguiçosos. As reportagens hoje viraram 'fulano mostra corpão', 'ciclano curte foto'… Onde foi parar o jornalismo? Onde foi parar a apuração de fato?

E para isso eu vou usar uma frase clássica do jornalismo, por muitos atribuída ao escritor e jornalista George Orwell, mas dita por William Randolph Hearst: 'Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade'.

Por fim, quero ressaltar que eu sou muito feliz no SBT. Amo a Lívia Andrade. Estou bastante satisfeito com a nova direção, mas preciso ressaltar que eu preciso de liberdade de expressão. Sem ela, Leo Dias não será Leo Dias. Eu já critiquei o jornalismo do SBT na frente do dono da emissora, falei da censura à nobre colega Rachel Sheherazade pro patrão dela e JAMAIS fui repreendido por isso.

O Brasil precisa aprender a lidar com opiniões discordantes. Eu não sou o certo. Eu só expus a minha opinião. E merecia ser respeitado.

Vou ali esfriar a cabeça e já volto. Se o SBT quiser, lógico."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.