Topo

Para produtores, Bolsonaro confundiu filme com série sobre Surfistinha

Mauricio Stycer

19/07/2019 13h13

A atriz Maria Bopp vive a protagonista da série "Me Chama de Bruna", em exibição na Fox

Em uma declaração que causou polêmica, o presidente Jair Bolsonaro criticou nesta quinta-feira (25) o uso de recursos públicos para a realização do filme "Bruna Surfistinha".

"Não posso admitir que, com dinheiro público, se façam filmes como o da Bruna Surfistinha. Não dá. Não somos contra essa ou aquela opção, mas o ativismo não podemos permitir, em respeito às famílias", disse Bolsonaro.

Nesta sexta, Bolsonaro voltou a dizer que a Ancine (Agência Nacional do Cinema) poderá ser privatizada ou extinta caso não seja possível usar filtros nas produções nacionais.

O filme "Bruna Surfistinha", dirigido por Marcus Baldini, com Deborah Secco no papel da protagonista, foi lançado nos cinemas em 2011. Como se sabe, é inspirado nas histórias de Raquel Pacheco, ex-garota de programa, que tornou público em blog e livro sua trajetória no universo da prostituição.

Em 2016, o mesmo produtor do filme, Roberto Berliner, lançou a série "Me Chama de Bruna", em parceria com o canal Fox, tendo a atriz Maria Bopp como protagonista. A série está na terceira temporada e, assim como o filme, sempre contou com recursos da Ancine para a sua realização.

A quarta temporada, cuja gravação terminou nesta sexta-feira (19), será lançada ainda este ano. A série exibirá um encontro emocionado entre Raquel Pacheco, que visitou o set de surpresa, e Maria Bopp.

Os produtores da série desconfiam que o presidente estivesse se referindo à série e não ao filme quando mencionou a produção de "Bruna Surfistinha" como um exemplo do que a Ancine não deve apoiar. "A não ser que ele esteja querendo relançar o filme", ironiza o produtor Roberto Berliner.

O nome da série está entre as 18 produções "que não deviam ter sido aprovadas" pela Ancine, citadas em um documento ao qual Bolsonaro teve aceso, como relatou a colunista Mônica Bergamo nesta quinta-feira. Neste texto, assinado por um certo "Movimento Brasil 2100", está a proposta de transferir a Ancine do Rio para Brasília, ideia igualmente mencionada pelo presidente.

A quarta temporada de "Me Chama de Bruna" foi autorizada a captar R$ 5 milhões. "Sou a favor da liberdade de expressão e me orgulho do resultado desse trabalho. Espero poder continuar a contar todo tipo de história e vou lutar por isso", diz Berliner.

Não deve ser ignorado, em meio a esta polêmica, que o perfil Bruna Surfistinha no Twitter fez em março um comentário que teve enorme repercussão e causou muita polêmica: "me chame de puta, mas não me chame de bolsominion, pelo amoooor de Deus!". O perfil é bastante crítico em relação ao presidente Bolsonaro.

Veja também
Diretor de "Surfistinha": "Cinema não pode se reduzir a uma visão de mundo"

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.