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Com novelas como prioridade, Globo investe R$ 207 milhões em novo estúdio

Mauricio Stycer

09/08/2019 05h05

Novo conjunto de estúdios da Globo, chamado de MG4, inaugurado nesta quinta-feira

Foram mais de três anos de estudos, 18 meses de obras e investimentos de R$ 207 milhões para a inauguração, nesta quinta-feira (08), do chamado Módulo de Gravação 4 (MG4). É um colosso em matéria de tecnologia e facilidades para gravação. Mais importante, amplia em cerca de 50% a área de estúdios da Globo. Para quê? Para fazer mais novelas.

"Esta é uma aposta para o futuro. Uma novela tem, em média, 70% feita dentro de um estúdio, 20% feita na cidade cenográfica e 10% em externas. Em 2014, quando foi tomada esta decisão, nós percebíamos que a nossa capacidade de produção interna estava batendo nos 100%. Por isso, a certeza da necessidade de ampliação da capacidade de produção aqui dentro", explicou Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo.

Diretor de Teledramaturgia, Silvio de Abreu também destacou a aposta em novelas como a razão de ser do investimento da Globo: "Porque quando uma emissora como a TV Globo confia tanto nesse gênero que faz um projeto deste tamanho, com este custo, é porque ela acredita que nós vamos ainda continuar durante muito tempo fazendo novela."

Ricardo Waddington, diretor de Produção da Globo, lembrou que a falta de espaço para fazer novelas, "é algo que a gente traz dos anos 1980". O MG4 se destinará, inicialmente, apenas para a produção de novelas, começando por "Amor de Mãe", de Manoela Dias, com direção de Jose Luiz Villamarin, que estreia em 25 de novembro.

Os três novos estúdios (K, L e M) que compõem o complexo, cada um com 1.500 metros quadrados de área útil, vão permitir o uso de cenários fixos, encerrando a prática de montagem e desmontagem que ocorre em todas as gravações de novelas.

Mas, como observou Schroder, "não adiantava ter possibilidade de gravação se você não tivesse o que gravar." Isso explica o trabalho de renovação de autores. "Como a gente se prepara para este novo tempo, para este tipo de competição? Não é só com a gravação. Hoje temos cerca de 250 autores na casa. Já temos programados para 2019, 2020, 2021 'Malhação', novela das 18h, das 19h, das 21h, das 23h. Data em que começa a produção, número de capítulos, data de estreia, término. Esse foi o passo mais importante", disse.

Segundo Silvio de Abreu, o planejamento vai além. "Já tenho uma planificação de novelas até 2023. Já sei quais serão as novelas e os capítulos já estão sendo escritos. 'Amor de Mãe' (a próxima das 21h) já tem dez blocos de capítulos escritos, ou seja, 60 capítulos.", disse.

O diretor de Teledramaturgia afirma que o trabalho está cada vez menos intuitivo e mais científico. "Você tinha a ideia de que deveria fazer a novela de pouquinho em pouquinho pra ver o que o povo gostava e não gostava. Mas isso não é verdade. Porque a gente tem uma expertise aqui, um grupo de leitores, e as pessoas que trabalham no departamento, que conseguem detectar, pelo texto, se a história está indo bem ou mal. E a gente manda refazer. O processo é muito mais racional hoje."

Jorge Nobrega, presidente executivo, Roberto Irineu Marinho, presidente do Conselho de Administração, e Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo

Veja abaixo trechos da conversa de Carlos Henrique Schroder com um grupo de jornalistas nesta quinta-feira, no Rio.

A origem
Esta decisão aconteceu cinco anos atrás, em 2014. Porque nós percebíamos, já naquele momento, que a nossa capacidade de produção interna estava batendo nos 100%. Nós produzimos perto de 80% do nosso conteúdo. Olhando o mundo, o momento, Netflix começando, OTT nascendo, a possibilidade de produção para a Globosat, e para outros mercados, a gente viu que precisava ampliar a nossa capacidade de produção.

Mais textos
Como é que a gente vai fazer isso, como se prepara para este novo tempo, para este tipo de competição? Não é só com a gravação. A gente precisava fazer um trabalho interno de planejamento muito mais profundo. E começamos a trabalhar: antecipação de textos, mais opções de conteúdos – séries, minisséries, super-séries, novelas. E começamos a ampliar. Este trabalho garantiu a perspectiva de longo prazo. Não adiantava ter possibilidade de gravação se você não tivesse o que gravar.

Troca de 'Verão 90'
Hoje, quando a gente tem alguma dificuldade específica em alguma novela, ou com algum conteúdo, nós temos novelas prontas, preparadas, com texto, para substituir ou mudar a ordem. Como aconteceu recentemente com "Verão 90", em que havia uma possibilidade, no ano passado, do Collor se lançar candidato, e a novela falava, no início, sobre o Plano Collor. Por cuidado eleitoral, nós adiamos a novela para evitar que houvesse aquela questão, naquele momento.

Parceiros externos
Troca é fundamental. Não imaginamos reduzir nossa relação com parceiros externos (Conspiração, O2, Gullane, Maria Farinha), mesmo aumentando a nossa capacidade de produção. É claro que aumentamos a supervisão, a curadoria sobre este conteúdo, que tem a marca da Globo.

Janela de exibição na Globoplay
Este ano vamos entregar seis produtos originais para a Globoplay. A janela para a TV aberta a gente quer que vá aumentando com tempo. Começamos com uma janela de um ano, como um prazo mínimo para provar ao espectador que este conteúdo é apenas no OTT. E a gente acha que talvez precise de uma janela um pouco maior, de um ano e meio, dois anos, para a exibição na TV Globo.

Novela antecipada online
'Órfãos da Terra' na Globoplay aumentou em 40% a audiência no digital. Não vamos fazer com novela das 7 nem das 9. São produtos que a TV ainda preserva com um horário razoável de exibição e não precisa fazer experimentação. Pretendemos fazer outras experiências.

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Observação: Viajei ao Rio a convite da Globo.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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