“Chute na santa” vira “pancadinha” na parte 2 da biografia de Edir Macedo
Mauricio Stycer
16/08/2019 05h02
"Nada a Perder 2", a segunda parte da biografia cinematográfica de Edir Macedo, traz como subtítulo um anúncio de fé: "Não se pode esconder a verdade". É com esta missão que o filme procura provar, ao longo de quase duas horas, que o fundador da Igreja Universal foi vítima de diferentes complôs para caluniá-lo.
Por trás dos muitos problemas que enfrentou com a Justiça, aponta "Nada a Perder", escondia-se a intenção de impedir o crescimento de sua igreja e da Record, a rede de televisão adquirida em 1989.
Quem leu os três volumes da biografia que serve de base para o filme sabe a quem Macedo credita sua via-crúcis: a setores da Igreja Católica, da Justiça, do meio político e a Rede Globo.
Escrita por Douglas Tavolaro, que também é produtor do filme, a biografia coloca Macedo sempre na posição de vítima, lutando contra forças superiores malignas nas mais variadas situações. O fundador da Igreja Universal é perseguido até dentro de um avião – uma aeromoça derruba café intencionalmente nele durante um voo.
Na cena de abertura de "Nada a Perder 2", uma fiel da Universal é alcançada na rua e violentamente agredida por uma dezena de pessoas simplesmente porque pertence à igreja de Macedo. Como se fosse uma caça às bruxas. Posteriormente, o espectador vai entender que esta mulher teria sido vítima da reação de católicos enfurecidos com o episódio que ficou conhecido como o "chute na santa".
Em 12 de outubro de 1995, com o objetivo de criticar a idolatria, o então bispo da Universal Sérgio Von Helder chutou uma imagem de Nossa Senhora no programa da igreja exibido de madrugada na Record.
No filme, as primeiras menções ao episódio falam que o religioso deu uma "pancadinha" e "encostou o pé" na imagem. Como se a intensidade do ataque, e não o gesto em si, é que fosse importante. Na sequência, outros assistentes de Macedo vão se referir ao caso como um "chute" e o próprio fundador da igreja irá à televisão pedir desculpas aos católicos e reconhecer o erro cometido.
Mais de uma vez no filme, assim como já havia feito no livro, Macedo vê exagero da Globo na cobertura dos seus problemas e aponta distorções da emissora carioca. O famoso vídeo em que aparece contando notas de dólares no chão é citado como exemplo – seriam notas de um dólar, diz "Nada a Perder".
A virada na trajetória de Macedo ocorre como resultado de uma missão religiosa. Cansado das acusações, inquéritos policiais e processos judiciais, ele parte com a mulher e um bispo da igreja para o Monte Sinai. No alto da montanha, Macedo atira os volumes dos processos numa fogueira.
A partir daí, a situação da Igreja Universal e de Macedo começa a melhorar. Processos são arquivados, o juiz que o investigou é preso, um senador que articulou contra ele é acusado de práticas criminosas e a igreja católica silencia.
Macedo é vivido, com muita entrega, por Petronio Gontijo. Assim como ocorre no primeiro filme, o próprio Edir Macedo aparece ao final. "Gosto de ser caluniado. É combustível para a minha fé", diz ele, concluindo o arco apresentado em "Nada a Perder".
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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