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Para que fazer uma cena legal se você pode fazer uma cena idiota?

Mauricio Stycer

29/08/2019 05h01

Márcio (Anderson Di Rizzi) e Kim (Mônica Iozzi) em uma cena cretina de A Dona do Pedaço

O título deste texto tenta resumir um princípio que parece mover Walcyr Carrasco e seus colaboradores em "A Dona do Pedaço". Não há um capítulo sem uma cena de baixo nível, idiota, desperdiçando assuntos que poderiam render ótimos diálogos.

No capítulo desta quarta-feira (28), coube a Márcio (Anderson Di Rizzi) protagonizar a cena grosseira do dia. Ele propôs a Kim (Mônica Iozzi), sua namorada, morarem juntos. Ela adorou a ideia. Mas rapidamente a conversa evoluiu para as responsabilidades que cada um teria no novo arranjo.

Apesar de lembrar que tem uma máquina de lavar, Marcio fez questão de dizer que espera de Kim que ela lave as suas cuecas.

"Então, eu faço o café da manhã para você, e você lava minhas cuecas", disse ele. "Você está bem louco, né, Márcio? Você acha que eu nasci para lavar cueca de macho?", respondeu Kim. "Alguém tem que lavar. A função da mulher é lavar cueca", respondeu. "Não estou acreditando que ouvi isso. Márcio, você é um machista reacionário", terminou Kim, indo embora da casa dele.

Marcio é um personagem machista? Sim. Mas há várias formas de contar a história de uma figura assim numa novela. Com estas frases duras, abruptas, Carrasco não quer discutir machismo na novela. Está apenas querendo chocar, provocar polêmica.

E fazendo isso, produz uma cadeia de acontecimentos. A atitude ridícula de Marcio gera comentários indignados nas redes sociais, o UOL escreve uma nota a respeito, comentando a repercussão, eu venho aqui reclamar e alguns espectadores pedem para eu me calar dizendo que isso é só uma novela.

Numa prova de que o método é eficiente, a audiência de "A Dona do Pedaço" não para de subir.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.