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Roda Viva com Greenwald discute mais métodos do que conteúdo da Vaza Jato

Mauricio Stycer

03/09/2019 00h25

A entrevista de Glenn Greenwald no "Roda Viva" nesta segunda-feira (02) foi muito frustrante para quem tinha interesse em entender melhor o impacto e os desdobramentos do furo de reportagem do site The Intercept Brasil. O programa rumou em outra direção, mais técnica, sobre os bastidores da série que ficou conhecida como Vaza Jato.

O problema deste caminho tomado pela conversa é que não estamos habituados a discutir bastidores da mídia publicamente no Brasil. Há poucos jornalistas especializados em comunicação nos grandes veículos – e os assuntos ligados a esta área normalmente são tratados pelos profissionais da área de economia.

Se a intenção era questionar aspectos técnicos e éticos do procedimento do site que revelou o caso, a TV Cultura poderia também ter convocado para a bancada profissionais mais especializados, dedicados a isto, como algum ombudsman, acadêmicos respeitados na área, observadores de mídia.

Houve uma preocupação, clara, de não convidar jornalistas de veículos que estão atuando em parceria com o The Intercept. Tudo bem. Mas a opção por colegas de empresas que enxergam com ceticismo o conteúdo da Vaza Jato não produziu o efeito desejado.

O ceticismo é saudável e necessário. Mas diante dos fatos já revelados até agora, ao longo de quase três meses, muitas das perguntas ultrapassaram o nível da curiosidade e soaram ingênuas e/ou desrespeitosas. Serviram mais para mostrar descontentamento de quem perguntava do que, de fato, interesse em esclarecer algum aspecto ainda não discutido do trabalho de Greenwald.

Acho que muitas das questões não teriam sido feitas se o furo do The Intercept tivesse sido dado por um veículo de mídia tradicional impressa.

Aliás, não me lembro de o "Roda Viva" ter promovido uma entrevista semelhante, no tom questionador desta segunda-feira, com outro autor de um grande furo para discutir como fez a sua reportagem. O corporativismo não permitiria.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.