Excesso de elogios dos candidatos e dos jurados torna o The Voice um tédio
Mauricio Stycer
13/09/2019 05h01
Numa fase de disputas eliminatórias ao vivo, seria de se esperar por muita emoção, mas o "The Voice Brasil" segue cada dia mais tedioso. Diferentemente de outras competições musicais, nesta todos os participantes são ótimos e os jurados só têm coisas boas a dizer dos eliminados.
É elogio atrás de elogio, tanto de quem é eliminado quanto dos jurados responsáveis por mandar os cantores para casa.
Não é possível que, entre dezenas de eliminados, TODOS os candidatos concordem, elogiem e agradeçam a decisão dos jurados. "Aprendi muito com as suas observações". "Cresci muito". "Foi uma experiência maravilhosa". "Cada palavra me fez crescer mais".
Sonho com o dia em que um participante do "The Voice Brasil" não vai agradecer depois de ser eliminado. Vai reclamar. "Vocês foram injustos". "Não entendem nada de música". "Escolheram o outro porque ele grita mais que eu". Qualquer coisa assim.
Ah, se fizerem isso, vão fechar as portas! Ora, isso não é, necessariamente, uma verdade. Mostrar personalidade e alguma rebeldia ou independência, também conta pontos neste mercado.
Também espero do quarteto de jurados um pouco de espírito crítico. Não é possível que TODOS os candidatos sejam espetaculares, tenham timbre de voz lindos, apresentem performances emocionantes.
Neste país das maravilhas em que se transformou o "The Voice", Ivete, Lulu Santos, Teló e até a estreante Iza parecem atuar no piloto automático. Repetindo considerações elogiosas, acabam igualando tudo, o que é injusto.
Não estou clamando por grosserias ou palhaçadas, que faziam a graça dos antigos shows de talentos. O "The Voice" é um concurso mais chique, mais careta, com outra proposta, mas seria bom se fizesse algum esforço para sair do óbvio.
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.