Globo recusa série de Carlos Lombardi, mas aprova novela com o mesmo tema
Mauricio Stycer
04/10/2019 15h27
No primeiro semestre de 2018, Carlos Lombardi apresentou à Globo o projeto de uma série intitulada "Bad Boy". A história deveria girar em torno de um jogador de futebol polêmico, ao estilo de Romário e Edmundo, em fim de carreira, sofrendo com problemas no joelho.
Lombardi é autor de duas dezenas de novelas e séries exibidas na Globo, onde trabalhou entre 1981 e 2010. Também atuou na Record entre 2012 e 2017.
Ele me contou sobre o projeto de "Bad Boy" há cerca de seis meses, mas pediu que eu não escrevesse a respeito. A ideia da série, segundo ele me disse na ocasião, havia sido bem recebida por Gloria Perez, que supervisionava a área de séries da emissora, mas acabou sendo rejeitada por Silvio de Abreu.
A emissora devolveu o projeto ao autor, que o apresentou a outras empresas. Uma delas, estrangeira, segundo Lombardi, está avaliando a viabilidade de realizá-la.
Nesta sexta-feira (04), a colunista Patricia Kogut, de "O Globo", noticiou que Silvio de Abreu aprovou um projeto do roteirista Mauro Wilson, intitulado "A Morte Pode Esperar". Deverá ser uma novela das 19h, a ser exibida em 2020. Segundo a descrição do jornal, "o protagonista será um jogador de futebol de 36 anos que está tentando voltar a jogar bola".
"Você lembra da história que te contei? Não preciso dizer mais nada", afirmou Lombardi, ao ser procurado pelo blog nesta sexta-feira. "É uma coincidência enorme".
Lombardi chegou a escrever um piloto, apresentado a Gloria Perez no final de maio de 2018. O diretor de Teledramaturgia pediu algumas modificações, que foram realizadas. No final de julho, o autor foi informado que a série foi rejeitada numa reunião de Silvio de Abreu com Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo.
"A razão do veto, segundo me foi informado pela Glória, é que Silvio defendeu junto ao Schroder que futebol é um assunto que não interessa às mulheres e, por isso, não serve à casa", disse Lombardi. "Pelo visto, as mulheres mudaram muito", ironiza.
O argumento de que "mulher não gosta de futebol" pode ter sido apenas uma desculpa do diretor de Teledramaturgia para rejeitar o projeto. Afinal, novelas de muito sucesso, como "Irmãos Coragem", "Vereda Tropical" (do próprio Lombardi) e "Avenida Brasil", para citar apenas três, tiveram protagonistas com este perfil.
Procurada pelo blog para comentar a "coincidência enorme", a Globo respondeu: "Silvio nunca falou diretamente com Carlos Lombardi. Mais importante do que essa informação é a de que teremos uma novela com quatro protagonistas e um deles quer voltar a jogar futebol. E não existe em absoluto um entendimento de que mulher não gosta de futebol ou de qualquer outro esporte. É só você observar a programação da emissora como um todo e toda a diversidade que está em nosso DNA."
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Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
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