Record esconde notícia da canonização de Irmã Dulce, 1ª santa brasileira
Mauricio Stycer
13/10/2019 23h17
Assunto de destaque no final de semana em todos os sites, nos jornais e na grande maioria dos canais de TV, a notícia da canonização de Irmã Dulce, a primeira santa nascida no Brasil, passou praticamente em brancas nuvens pela Record.
No sábado (12), véspera da cerimônia no Vaticano, o assunto teve enorme destaque nos telejornais noturnos das maiores emissoras. O "Jornal Nacional" (Globo) exibiu duas reportagens num total de 6 minutos e 20 segundos. O "SBT Brasil" igualmente apresentou duas matérias ao longo de 6 minutos. O "Jornal da Band" foi outro a mostrar duas matérias sobre o assunto num total de 5 minutos e 22 segundos. Os três telejornais produziram parte do material com repórteres em Roma.
A EBC (Empresa Brasil de Comunicação) também contou com equipe na Itália para produzir material jornalístico para a TV Brasil – o vice-presidente, Hamilton Mourão, representou o governo na cerimônia.
O "RedeTV News" não teve cobertura no local, mas mesmo assim não poupou esforços e apresentou uma grande reportagem de 5 minutos e 40 segundos sobre a canonização.
No "Jornal da Record" não houve nenhuma menção a Irmã Dulce. Já o Vaticano foi citado, de forma crítica, por realizar o Sínodo da Amazônia, numa reportagem do telejornal sobre a Conferência de Ação Política Conservadora realizada em São Paulo.
No "Domingo Espetacular", com três horas e meia de duração, a cerimônia religiosa realizada pela manhã no Vaticano não mereceu, igualmente, qualquer menção. Para os dois principais jornalísticos da Record no final da semana, a notícia não existiu.
Foi um boicote ainda mais radical do que o ocorrido na beatificação de Irmã Dulce, em 2011, passo anterior da canonização. Naquela ocasião, tanto o principal telejornal quanto a revista eletrônica dominical da Record falaram do assunto, ainda que modestamente, em reportagens.
Edir Macedo, dono da Record, é também fundador da Igreja Universal do Reino de Deus. Nos seus livros de memórias, a trilogia "Nada a Perder", ele faz críticas duras à Igreja Católica, a quem enxerga como "inimiga", ao lado da Globo, e acusa de conspirar contra a Universal. Esta crítica é reiterada nos dois filmes já realizados com base nas biografias.
Em vários intervalos da programação de domingo, a Record exibiu uma chamada sobre o "Fala Brasil", que estreia novo cenário e apresentadora nesta segunda-feira (14). "A busca pela verdade é nossa obrigação", diz a chamada. Quatro palavras são realçadas no vídeo como características do jornalístico: "respeito", "confiança", "agilidade" e "credibilidade".
Sobre o autor
Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
Sobre o blog
Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.