Ousado, “Zorra” debocha da própria Globo, de Bolsonaro e do público
Viralizou, aparentemente como programado, o quadro de abertura do "Zorra" exibido na noite de sábado (02) na Globo. Divulgado previamente no site da emissora, o esquete satiriza a já célebre "live" no Facebook na qual o presidente Jair Bolsonaro, muito exaltado, ofendeu o jornalismo da Globo e ameaçou não renovar a concessão do canal.
Fernando Caruso, aperfeiçoando a cada semana a sua imitação de Bolsonaro, repetiu parte das ofensas ditas pelo presidente ("isso é uma patifaria", "patifes", "canalhas"), mas alterou, claro, o alvo. Em vez das críticas de Bolsonaro ao jornalismo da emissora e, em especial, à reportagem do JN que associou o seu nome às investigações do assassinato da vereadora Marielle Franco, o "Zorra" fez o seu "presidente" rir de exageros e absurdos vistos por espectadores em programas da área de entretenimento da Globo.
Seis foram os alvos do quadro: "A Dona do Pedaço", "Avenida Brasil", "Mais Você", Galvão Bueno, "Se Joga" e o próprio "Zorra". Lembrando muito o "militante revoltado", encarnado por Marcelo Adnet no saudoso "Tá no Ar", Caruso gritou:
"Como é que a Maria da Paz ganhou o Best Cake? É tudo manipulação isso daí!"
"Como é que a Nina não tinha um pendrive com as fotos da Carminha? E agora estão reprisando isso daí pra enganar o povo de novo!"
"Todo mundo sabe que o Louro José é um boneco!! Vocês não enganam ninguém, TV Globo! Eu quero saber, onde é que aquele homem enfia aquela mão ali? Tem criança assistindo isso dai!"
"Em 2022 tem Copa e eu vou questionar direitinho o seu Galvão Bueno para saber o que ele quer dizer com 'haja coração'!"
"E esse 'Se Joga'? Pra que três apresentadores, meu Deus! É pra insinuar alguma coisa com os meus três filhos?"
"E esse Zorra Total que não acaba? Quem garante que não foi o Jair desse Zorra Total aí que atendeu o porteiro no condomínio?"
A eficácia do esquete deve-se justamente ao uso desta lente de aumento, desta "ampliação", da situação. Na primeira camada, está a exposição da forma de comunicação do presidente, cuja exaltação (imagem acima) naquela noite teve um caráter tragicômico.
Mas também é possível imaginar que, ao fazer o "presidente" vociferar, exaltado, contra detalhes extravagantes da programação, o "Zorra" apenas reproduziu o que muitos espectadores enxergam e expressam. O exagero do personagem, muitas vezes, é semelhante ao nosso exagero nas redes sociais.
Apenas a observação de encerramento se dirigiu a um concorrente, que é visto por Bolsonaro como exemplo de bom jornalismo. "Bom, agora vou dar um pulo no Jornal da Record! Boa noite a todos", diz Caruso. A fala, de fato, reproduziu uma menção feita pelo presidente na "live", mas me pareceu desnecessária. "Lacração", como dizem.
Neste quadro quase perfeito, o "Zorra" conseguiu rir do principal assunto da semana, sem poupar a própria Globo, Bolsonaro e o público.
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