Restrospectiva 2011: As Novelas Amadas e Odiadas do Ano
Nilson Xavier
28/12/2011 11h41
Ti-Ti-Ti (Globo): a novela de Maria Adelaide Amaral, baseada na obra de Cassiano Gabus Mendes, foi, antes de tudo, uma homenagem a todas as novelas do autor e à telenovela em si. Os aficcionados divertiram-se com as mil e uma referências a novelas antigas e famosas, personagens, tramas e situações. Em minha opinião, a melhor novela de 2010, e está nessa relação porque ela avançou mais de três meses em 2011 (de julho de 2010 a março de 2011).
Araguaia (Globo): a novela de Wálter Negrão foi apresentada metade em 2010 e metade em 2011. As belezas da região do Araguaia, mostradas em HD, foram um chamariz, mas a história de Negrão deixou a desejar. Lima Duarte comentou publicamente que não gostou de seu personagem, o vilão Max. De resto, mais um grande momento de Laura Cardoso, e ótimas cenas com as novatas Flávia Guedes e Luciana Carnielli, que viveram as divertidas empregadas Aspásia e Lurdinha.
Malhação: a fase 2010/2011, escrita por Emanuel Jacobina, não apresentou nada de novo, mas manteve uma audiência regular, que vinha em queda a cada ano. Destaque para a relação do jogador de futebol Maicon (Marcello Melo) com sua simplória mãe Dona Zica (Inez Vianna).
Malhação Conectados: a Globo estreou a nova fase da "novelinha teen" com grande alarde. Trouxe Ingrid Zavarezzi da TV a cabo para roteirizar e lançou a temporada de 2011 prometendo tramas sobrenaturais repletas de mistério e suspense. À medida que a audiência foi caindo, o sobrenatural foi sumindo da história. O alerta vermelho é o aviso de que a fórmula já está desgastada há muito tempo e que nem apelar para o sobrenatural resolve. Um passeio pelo baixo Augusta (em São Paulo) no sábado à noite, daria uma noção da realidade do jovem moderno de uma grande cidade, completamente diferente da juventude pasteurizada e fake do Projac. Além da fraca história, vale destacar que o capítulo de Malhação já começa com a audiência lá embaixo, herdada dos filmes da Sessão da Tarde – não justifica o seu fraco desempenho, mas é uma questão a ser considerada.
Insensato Coração (Globo)
Morde e Assopra (Globo) começou mal. Dinossauros e uma Flávia Alessandra robótica não agradaram. A trama do casal romântico central, vivido por Adriana Esteves e Marcos Pasquim, não foi suficiente para chamar a atenção do público para uma história com tantos elementos requentados que Walcyr Carrasco trouxe de novelas anteriores. Foi quando o autor teve a grande sacada: pegou a melhor atriz do elenco e elevou uma trama paralela à categoria de trama central. Assim, a simplória, sofrida e maniqueísta Dulce (Cássia Kiss) foi promovida a protagonista. Destaque também para o confronto entre a Flávia Alessandra robô e a real, um caipira abestado apaixonado por um malandro travestido e a empregada que fica rica a partir da avareza da patroa. Mas tirando Dulce, quem brilhou mesmo nesta novela extremamente popular foi a dupla Áureo e Celeste (André Gonçalves e Vanessa Giácomo) – ele, um gay afetadíssimo e divertido, ela, a vilã safada. Carrasco pôde respirar aliviado: a audiência já estava conquistada.
O Astro (Globo): o remak
Amor e Revolução (SBT
Vidas em Jogo (Record): mexer na estrutura do folhetim é perigoso, mas estimulante. A novela de Cristianne Fridman não tem um protagonista, mas vários: os vencedores da loteria. E no final, o que chama a atenção mesmo são os dramas de cada personagem. Como a taxista estuprada e contaminada pelo vírus da Aids (Simone Spoladore), a mulher que apanha do marido (Lucinha Lins), ou a transexual que esconde – com um lencinho no pescoço – sua condição do filho de criação ingrato (Denise Del Vecchio e Rômulo Arantes Neto). Tramas interessantes com atores à altura. Mas falta a essa novela um borogodó, um charme, ou pelo menos uma melhor divulgação que chame a atenção do "grande público". Dica: excesso de cenas de ação cansa.
Rebelde (Record): versão brasileira da novela teen que fez sucesso no Brasil através da versão mexicana da Televisa, apresentada pelo SBT entre 2005 e 2006. Foi o programa que mais sofreu com a grade flutuante da Record. Não há audiência cativa que resista a constantes mudanças de horário. Mas não para Rebelde, ao que parece. Apesar da audiência considerada baixa, e dos horários de exibição voláteis, a novela tem fãs adolescentes que garantem o sucesso dos shows reais da banda da ficção. Isso sem falar da repercussão nas redes sociais, os produtos licenciados e a garantia, por parte da emissora, de uma segunda temporada no ano que vem.
Fina Estampa (Globo): Ama
A Vida da Gente
Aquele Beijo (Globo): narrada por um Miguel Falabella sempre inspirador, a sua novela é bonitinha, com um universo peculiar às suas tramas, repleto de personagens ricos e interessantes, alimentados por um texto sempre afiado e original. Mas falta um je ne sais quoi à novela, que a faça deslanchar. A trama principal – do quadrilátero Cláudia-Rubinho-Lucena-Vicente – é fraca para nortear a novela toda. Sabemos que tem uma vilã (Maruschka, de Marília Pêra), mas quem seria a mocinha e o herói? Sarita e Alberto (Sheron Menezes e Herson Capri)? Construir uma novela apenas com tramas soltas é um recurso já usado e que pode ser interessante. Mas em uma novela que pouco empolga, pode ser um problema.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.