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DERCY DE VERDADE: Palavrões com Qualidade

Nilson Xavier

11/01/2012 07h00

Foi tudo muito rápido. O primeiro capítulo de Dercy de Verdade já começou no embalo da estreia do BBB12, engatou e atropelou a vida da comediante. Em um único capítulo, Dercy cresceu, ficou falada em Santa Maria Madalena, casou-se de mentirinha, foi para São Paulo, voltou, teve uma filha, foi para o Rio de Janeiro…

Não é fácil contar mais de 100 anos de vida de uma personalidade em apenas quatro capítulos – mas a minissérie bem que poderia ser mais longa. Ficou aquela impressão de que se precisava manter o telespectador grudado na TV. Lembrou a estreia da novela O Astro, que teve um primeiro capítulo alucinante.

Direção de arte, cenário e figurinos impecáveis – como costumam ser as minisséries da Globo. A fotografia teve predominância de tons pastel para representar a juventude de Dercy (Heloísa Périssé), contrastando com o colorido da apresentação em um teatro da Dercy já velha (Fafy Siqueira) – ou a Dercy real.

Heloísa Périssé fez uma Dercy divertida, mas que por vezes soou caricata – lembrou as várias personagens divertidas com as quais nos acostumamos a ver a atriz. Já o pouco que se viu de Fafy Siqueira foi o suficiente para perceber que ela encarnou Dercy Gonçalves, literalmente – apesar da voz diferente e da cara de Fafy eternamente lembrar o falecido Ronald Golias!

O texto é de Maria Adelaide Amaral, a "rainha das minisséries" – biográficas, como Um Só Coração, JK e Dalva e Herivelto. A direção geral é de Jorge Fernando, com quem Maria Adelaide trabalhou recentemente, na novela Ti-Ti-Ti. Um dos pontos altos da minissérie foi a presença da Dercy real, através de imagens de arquivo, da narração e da bela abertura.

O primeiro capítulo abrangeu as décadas de 1920 e 1930. Alguns pontos da direção de Jorge Fernando lembraram novelas de Walcyr Carrasco – os dois trabalharam em tramas de época que ocupavam o mesmo período da minissérie. A equipe do diretor em um texto de época com uma personagem de humor acentuou essa semelhança com a obra de Carrasco. Mas a trilha incidental foi o que saltou aos olhos. Até os acordes do tema de abertura de Chocolate com Pimenta foram ouvidos.

Dercy de Verdade já entra para a história como o programa em que se ouviram mais palavrões na TV brasileira. Isso justifica o horário em que é apresentada. Diante de uma obra tão bem acabada, de inegável qualidade, esses palavrões soaram pequenos. Dercy estava acima de tudo isso. A cena em que ela cospe na plateia durante uma apresentação soa como um tapa com luva de pelica na sociedade que a achincalhou. Dercy cuspiu na cara da sociedade e a sociedade aplaudiu.

Link de Dercy de Verdade no site Teledramaturgia

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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