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Novela “Aquele Beijo” acerta apenas nas tramas paralelas

Nilson Xavier

30/03/2012 07h00

A novela Aquele Beijo é a história do que mesmo?

Várias podem ser as respostas para esta pergunta:
– uma vidente de araque que explora os poderes do primo, que são reais, enquanto promove banhos em rapagões incautos;
– um prêmio de loteria dividido por casal em que um parceiro tenta trapacear o outro;
– a proprietária de uma loja de alto luxo frente à derrocada financeira e processos na justiça;
– uma mãe que expulsou a filha de casa porque ela se rebelou contra o seu sonho de vê-la transformada em miss;
– os desencontros de um problemático quadrilátero amoroso;
– a luta de uma mulher em manter um orfanato enquanto sua irmã faz de tudo para livrar-se dele;
– uma travesti que sonha em ter o reconhecimento da mãe biológica que o abandonou quando era criança;
– uma advogada que luta a favor de uma comunidade prestes a ser despejada pela loja que se diz proprietária do terreno;
– uma impostora que se infiltra em uma família;
– a mulher que passou anos na Europa vivendo como uma concubina prisioneira e herda uma fortuna e um título de nobreza quando é solta após a morte de seu algoz.

Enfim, Aquele Beijo é uma novela de várias histórias, que se cruzam ou não. A proposta inicial, com uma trama central – a da conturbada relação do quadrilátero Rubinho-Cláudia-Vicente-Lucena -, foi se esvaindo ao longo dos capítulos frente a uma audiência bocejante – que despertava apenas com as tramas paralelas.

Perto de seu fim – a novela acaba em 14/04 – Aquele Beijo é hoje uma novela sem protagonista, já que as tramas paralelas foram engolindo a trama central. Após um período de marasmo, com audiência em baixa, aos poucos o interesse pelas histórias foi sendo despertado e Aquele Beijo já mostra fôlego para vários desfechos interessantes.

O grande destaque no elenco é, sem dúvida, a pérfida e espirituosa Maruschka, interpretada por uma Marília Pêra sempre inspirada quando vive personagens desse tipo. Maruschka tem a afetação de Rafaela Alvaray (de Brega e Chique), a maldade de Custódia (de Meu Bem Querer), a graça de Milu Montini (de Cobras e Lagartos), a arrogância de Catarina Faisol (da série A Vida Alheia). Mas a atriz sempre consegue se inovar a cada personagem.

Também ganhou destaque ao longo da novela de Miguel Falabella a trama dos primos Mãe Iara e Joselito (Cláudia Jimenez e Bruno Garcia), a divertida família "king size" de Olavo e Marieta (Ernani Moraes e Renata Celidônio), a intrusa Damiana (Bia Nunnes), que se faz passar por irmã de Felizardo (Diogo Vilela), e os dramas da travesti Ana Girafa (Luís Salém).

Apenas lamenta-se que a direção de Aquele Beijo tenha abandonado a proposta de alternar os famosos beijos da abertura. Era bonito, original, e fazia a festa dos saudosistas de nossa teledramaturgia, como eu.

Saiba mais sobre Aquele Beijo no site Teledramaturgia.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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