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"Avenida Brasil" e "Cheias de Charme" miram a classe C mas agradam a todos os públicos

Nilson Xavier

29/05/2012 12h14

É evidente no Brasil a atual preocupação de todos os setores em bajular a "nova classe C", tão em voga no momento, inclusive na televisão. De acordo com dados do Ibope, esta classe emergente foi responsável por 52% da audiência dos canais abertos em 2011. Daí a intenção dos executivos de televisão em reproduzir na telinha gostos e padrões da "nova classe C" – atualmente evidenciados nas novelas da sete e nove horas da Globo, Avenida Brasil e Cheias de Charme.

Para definições e curiosidades sobre o fenômeno "nova classe C", sugiro a leitura no site da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE). AQUI

A questão da "nova classe C" nas novelas está mais no produto em si – em sua temática, tramas e personagens – do que no público telespectador. Considerando as atuais novelas das sete e nove horas, houve uma mudança de foco: o popular se destaca (em tramas e personagens) – quando comparamos com novelas anteriores onde se evidenciavam as classes mais abastadas (como em tramas de Gilberto Braga e Manoel Carlos).

Mas isso não quer dizer que a novela não possa agradar a todas as classes. O segredo está em continuar fazendo novelas que agradam a todos de uma forma universal, mas mudando temas/tramas/personagens onde a "nova classe C" possa sentir uma maior identificação.

Se antes as empregadas eram personagens que só serviam à mesa e entravam mudas e saiam caladas, hoje elas podem ser as protagonistas – algo impensável tempos atrás, pois, de certa forma, "subvertia" a linguagem estabelecida. Os novos ricos da novela das nove não abandonaram o subúrbio, tampouco deixaram para trás seus gostos e comportamentos.

Avenida Brasil e Cheias de Charme conseguem esse feito, o de agradar a todos. São "populares" porque miram o popular. No entanto, não abrem mão de uma linguagem estética estilizada – vide a fotografia e trilha instrumental de Avenida Brasil. Até mesmo Cheias de Charme, com seu colorido, que remete ao "technobrega" – inclusive quando focalizada a comunidade do Borralho, a favela da trama. É na preocupação estética que percebemos a "classe" da novela. Não vou nem citar a irrepreensível direção e interpretação de atores – estão acima de qualquer "luta de classes".

Cabe aqui uma comparação entre Avenida Brasil e Fina Estampa, a novela anterior no horário. A trama de Aguinaldo Silva manteve uma estética mais simplista com personagens maniqueístas (Griselda, Crô, Tereza Cristina), concebidos exclusivamente para agradar um público menos exigente, através de uma linguagem mais fácil, mais digerível – mais popular. Mesmo assim, diante da repercussão que teve Fina Estampa (entende-se números de Ibope), parece que acabou por agradar a todos de uma mesma forma.

Independente do novo foco, novo público alvo, novas temáticas, o fato é que as novelas continuam como dantes: atingindo todas as classes, seja qual for o poder aquisitivo. Na verdade, no Brasil sempre existiu produção teledramatúrgica para todos os gostos: novela cômica, dramática, realista, infantil, adulta, off-Globo, dramalhão latino, seriados, etc, populares ou não. Que continuemos escolhendo o que ver.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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