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“Cheias de Charme” perdeu seu charme inicial

Nilson Xavier

16/09/2012 12h22

O que terá acontecido a um dos maiores sucessos do ano da Globo? A novela das sete, Cheias de Charme – meses atrás considerada um fenômeno de repercussão -, entrou num círculo desinteressante que pode por abaixo todos os elogios conquistados. Definitivamente, não é a mesma novela dos primeiros meses. Não está mais tão charmosa.

A primeira parte da novela – que vai até o momento em que as empreguetes conquistam o sucesso como cantoras – foi um dos eventos mais deliciosos do horário nos últimos anos. A ascensão do trio de cantoras causou uma verdadeira comoção junto ao público, que vibrou com as histórias das protagonistas e se divertiu com a novela, suas cores e seus personagens.

Mas, passada esta fase, a sensação é que Cheias de Charme perdeu gás. Para evitar a barriga (aquele momento na novela em que nada acontece), os autores chegaram a usar o que chamei aqui no blog de "narrativa episódica": dar destaque para alguma trama paralela durante um curto período para depois substituí-la por outra. Mas, há semanas que isso não tem mais funcionado desse jeito. O fato é que, depois do sucesso, as três empreguetes protagonistas perderam muito do brilho que tinham no começo da história.

Cida (Isabelle Drummond), depois de rica, caiu muito facilmente no conto de dois de seus algozes da primeira fase: passou a amar o antigo patrão que a desprezava, Sarmento (Tato Gabus Mendes), depois que descobriu que era filha dele, e não resistiu – mais uma vez – à lábia de Conrado (Jonatas Faro,) o príncipe-sapo. Os dois, à primeira vista regenerados, passaram a "amar" a empreguete depois que ela enriqueceu. Não dá para torcer por uma heroína tão ingênua. A não ser que os autores reservem uma grande virada na personalidade da empreguete.

Rosário (Leandra Leal), a responsável pela união das três cantoras, sempre foi a mais ambiciosa delas e agora segue a carreira-solo depois que o grupo se desfez. No momento, está às voltas com seus dois interesses amorosos, os sósias Fabian e Inácio (Ricardo Tozzi), que se alternam no posto de cantor-par dela – Inácio está se fazendo passar por Fabian depois que este teve o rosto desfigurado por Chayene (Cláudia Abreu). Mas esta é uma trama que já deu mais do que tinha dar, disfarçada pela quantidade de clipes românticos dos shows de Rosário e Fabian – o que dá aquela sensação de "encheção de linguiça".

Penha (Taís Araújo) seguia um flerte até bem interessante com o Dr. Otto (Leopoldo Pacheco) e tinha a aprovação do público. Sua relação com a antiga patroa e agora amiga Lygia (Malu Galli) continua sendo uma trama bastante interessante dentro da novela. E promete render mais, quando Lygia descobrir que Penha está tendo um romance com Gilson (Marcos Pasquim), um antigo amor dela. Mas o romance entre Penha e Gilson não está colando. Nas mídias sociais, a torcida maior é por Penha e Dr. Otto juntos. Cida e Conrado também é um par que não agrada. Será que até o final da novela, Penha e Cida se decidem por Dr. Otto e Elano (Humberto Carrão)?

Enquanto as tramas das três empreguetes seguem barrigudas, Chayene parece ser a única que ainda brilha na novela e chama a atenção da audiência. As tiradas de Cláudia Abreu continuam divertidas e impagáveis. Em contrapartida, sua personal-curica Socorro (Titina Medeiros) está apagadinha. Aliás, Socorro é aquela personagem que melhor personaliza Cheias de Charme: começou vibrante mas foi murchando com o passar do tempo. Uma peninha.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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