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“Máscaras”: repercussão negativa foi sua maior inimiga

Nilson Xavier

03/10/2012 01h35

O último capítulo da novela Máscaras, da Record (nesta terça-feira, 02/10), foi encerrado com um bonito depoimento de Paloma Duarte, enaltecendo o trabalho do ator, que – nas palavras dela – faz a ponte entre o autor e o público. Ponte essa que – nestes seis meses em que a novela esteve no ar – balançou tanto que quase arrebentou.

Máscaras já começou com o pé esquerdo. Algumas declarações de Lauro César Muniz (o autor), antes da estreia, soaram mal para o público. Máscaras entrou no ar com a fama de não ser uma novela popular – Lauro havia criticado a tendência das novelas da Globo em mirar a tal "nova classe C".

E, realmente, a estreia causou um grande estranhamento: uma direção equivocada e um texto por demais confuso afastaram o telespectador. Logo em seu início, a novela revelou-se uma atração problemática para a Record, que viu seu Ibope cair vertiginosamente, o que acabou por deflagrar a pior crise no setor de Teledramaturgia da emissora desde que foi renovado em 2004.

Máscaras teve seu horário de exibição trocado várias vezes (por causa da estreia da Fazenda, teve alguns capítulos exibidos após a meia-noite), causou desconforto entre elenco e o autor (a atriz Luiza Tomé reclamou publicamente da novela e do autor), e culminou com a troca do diretor – Ignácio Coqueiro foi substituído por Edgard Miranda – e redução de sua duração – dos 220 capítulos primeiramente pensados, terminou com 116 escritos.

Para tentar apagar o incêndio, juntamente com a troca da direção, Lauro César e seus roteiristas mexeram no texto, para deixá-lo mais digerível ao telespectador médio. Foi quando a novela melhorou significativamente. De fato, Máscaras tinha uma história muito interessante, como tantas outras de Lauro César Muniz. O autor usou entrechos já experimentados anteriormente, como tramas envolvendo organizações criminosas (vide O Salvador da Pátria e Poder Paralelo).

Em julho, parte do elenco divulgou na internet uma "carta de amor à Máscaras", em que culpava a mídia pela repercussão negativa da novela. Os atores alegavam que a imprensa divulgava apenas os problemas (como a baixa audiência) e não noticiava a qualidade artística da obra, o trabalho e a garra dos atores e roteiristas.

Mas o estrago já estava feito. A tal ponte que Paloma Duarte citou, entre o autor e o público, era frágil demais, estava abalada pela repercussão negativa lá dos primeiros meses, quando faltou, justamente, a tal qualidade artística citada na carta dos atores para a imprensa.

Apesar da significativa melhora no que foi apresentado, o horário ingrato não contribuiu em nada para melhorar este quadro, e Máscaras acabou por amargar uma das piores audiências entre as novelas da Record desde 2004: fechou com 6 pontos na média geral do Ibope (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande São Paulo). O último capítulo registrou também 6 pontos, ficando em terceiro lugar (Globo 25,5 e SBT 8,4).

Há de se destacar o ótimo trabalho de Paloma Duarte, que brilhou a novela inteira com sua personagem dúbia e sem nome (Nameless). E o sensível trabalho de Bárbara Bruno, como Zezé, a mãe que não aceitava a perda do filho e convivia com ele em seu imaginário, no fino limite entre o trágico e o cômico.

Na cena mais marcante do último capítulo, o personagem Martim (Heitor Martinez) era morto a tiros por seus inimigos, que atiravam em uma parte de seu corpo por vez. A morte de Martim o fez tombar e do interior da árvore em que estava amarrado saíram pombos brancos, como se a morte do vilão significasse a paz dos protagonistas mocinhos da novela (minha leitura).

Esta cena me fez lembrar a novela Os Gigantes, que Lauro César Muniz escreveu para a Globo em 1979, famosa por ter sido um dos maiores fracassos da emissora. A abertura de Os Gigantes mostrava imagens de uma pomba e da atriz Dina Sfat, que vivia a protagonista, chamada Paloma, que se matou ao final da história pilotando um pequeno avião, em um voo suicida. Estaria Lauro fazendo alguma referência a este seu antigo trabalho, marcado por ter sido tão problemático, como foi Máscaras?

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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