Cena de praia de “Lado a Lado” é referência a uma novela de Gilberto Braga
A novela das seis da Globo, Lado a Lado, é escrita pela dupla João Ximenes Braga e Cláudia Lage (estreando como autores-solo) sob a supervisão de texto do experiente Gilberto Braga. E já é possível notar a influência de Gilberto na novela, ou, ao menos, algumas referências à obra do autor.
Recentemente, a francesa liberal Mademoiselle Jeanette Dórleac – vivida por Maria Fernanda Cândido – entrou na trama para escandalizar a provinciana Rio de Janeiro de 1904 e movimentar a novela. Logo adiante, ela será a responsável pela mudança de vida – e de visual – da mocinha sofredora Isabel (Camila Pitanga), quando a levará para passar uma temporada na França.
Este entrecho lembra um que havia na novela Dancin´ Days, sucesso de Gilberto Braga, de 1978. Nesta novela, a sofrida Júlia Mattos (Sônia Braga) se casava com um homem rico e partia para a França para um providencial banho de loja e costumes, com a amiga francesa Solange (Jacqueline Laurence). O seu retorno triunfal ao Brasil marcou a virada da novela. O mesmo está previsto para o atual folhetim das seis.
Mas, foi no capítulo desta terça-feira (05/11) de Lado a Lado que uma sequência chamou a atenção dos fãs da obra de Gilberto Braga. Na novela, a "moderninha" Mademoiselle Dórleac escandalizou os frequentadores de uma praia ao usar trajes de banho nada compatíveis com o início do século XX – pelo menos aos olhos da sociedade carioca da época. Ela e a atriz Diva Celeste – interpretada por Maria Padilha – foram advertidas pela polícia e viraram manchete de jornal e alvo dos curiosos (foto abaixo).
Gilberto usou uma trama semelhante em sua novela Água Viva (em 1980) – também envolvendo a atriz Maria Padilha – e que entrou para a história da TV por causa dos bastidores da gravação. Na novela, as personagens de Tônia Carrero, Maria Padilha, Maria Zilda e Glória Pires escandalizavam uma praia carioca ao fazer topless – uma novidade no Brasil em 1980. Na cena, que tinha como cenário o Posto 9 em Ipanema, as atrizes simulariam um topless, utilizando apenas um par de adesivos para cobrir os seios. A reação dos curiosos ao redor foi repreender as atrizes. A sequência teve que ser gravada em outra praia, em São Conrado.
"Quando os curiosos perceberam que faríamos topless, nos expulsaram da praia jogando latas e areia", lembrou Maria Padilha em entrevista.
De inocentes trajes de banho (em 1904) a topless (em 1980), Gilberto Braga e seus pupilos aproveitaram a mesma atriz dentro da ficção para relembrar um entrecho curioso da vida real. O próprio Gilberto já havia feito algo semelhante, na minissérie Anos Rebeldes (em 1992), em que apresentou as dificuldades de um novelista em escrever uma trama abolicionista durante a ditadura do Regime Militar – numa clara alusão ao que ele passou na época em que escreveu a novela Escrava Isaura, em 1976.
Dica de Carlos Eduardo Stefano.
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