Despretensiosa e simples, “Dona Xepa” pode ser um bom recomeço para a Record
Se quando estreou, "Balacobaco" mais parecia uma novela das sete da Globo passando às 22h30 na Record, "Dona Xepa" – a estreia dessa semana na emissora paulista, escrita por Gustavo Reiz – remete às tramas globais das seis da tarde. E isso é um elogio! – vide as produções caprichadas que o horário exibiu nos últimos anos ("Cordel Encantado", "A Vida da Gente", "Lado a Lado").
Dona Xepa, a personagem, é a simplicidade em pessoa, enquanto "Dona Xepa", a novela, segue a mesma linha. E este é seu maior mérito. Nada de ação e perseguições automobilísticas mirabolantes ("Vidas em Jogo"), nada de dramas pesados ("Máscaras"), nem a caricatura popularesca ("Balacobaco"). Desta vez, a Record preferiu – sabiamente – o feijão com arroz simples, mas bem feito. O que é uma ótima forma de abrir caminho e reconquistar audiência perdida com as duas últimas novelas.
Tudo em "Dona Xepa" flui bem, afinal tem poucos personagens e foi concebida para ser uma novela curta – e que assim seja. A trama é um clássico do folhetim maniqueísta: a mãe simplória, mas carismática (criada exclusivamente para a empatia com público), é rejeitada pelos filhos carreiristas. O trio de protagonistas tem atores muito bem em cena. Thaís Fersoza (Rosália, a filha) esbanja na tela beleza e ambição. O jovem Arthur Aguiar (Edson, o filho), igualmente muito bem, na pele de um tipo difícil: o personagem dúbio.
Mas é Ângela Leal quem dá o tom da novela. Xepa é uma personagem que facilmente pode cair na caricatura ou no exagero. Ângela parece medir cada gesto e cada entonação de voz com sua Xepa. A atriz está contida em uma personagem pouco contida. Este parece ser o segredo de sua Xepa.
Das tramas paralelas, ganha mais destaque a que envolve a família Pantaleâo. Luiza Tomé faz o contrário de Ângela Leal. Sua Meg Pantaleão é a caricatura deslavada da perua rica. Salta aos olhos quando a atriz contracena com Angelina Muniz, mais contida e mais segura em cena. Este caminho seguido por Meg, em um primeiro momento, só destoa do resto da novela. Talvez seja Meg a perua rica presa a padrões de beleza, o contraponto com Xepa, a feirante velha e pobre.
Outro destaque de "Dona Xepa" é a direção (geral de Ivan Zettel), que parece brincar com a edição de imagens. A história se passa em uma feira e tem uma protagonista feirante. A novela podia ser toda uma gritaria só, desorganizada e com muito barraco. Mas não. A direção trabalha bem o contraste com a imagem da feira. "Dona Xepa" – acima de tudo – é uma novela honesta, como sua protagonista. Despretensiosa e leve. Um bom recomeço para a Record.
Saiba mais sobre "Dona Xepa" no site Teledramaturgia.
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