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Despretensiosa e simples, “Dona Xepa” pode ser um bom recomeço para a Record

Nilson Xavier

26/05/2013 13h47

Ângela Leal em cena de "Dona Xepa" (Foto: divulgação/TV Record)

Se quando estreou, "Balacobaco" mais parecia uma novela das sete da Globo passando às 22h30 na Record, "Dona Xepa" – a estreia dessa semana na emissora paulista, escrita por Gustavo Reiz – remete às tramas globais das seis da tarde. E isso é um elogio! – vide as produções caprichadas que o horário exibiu nos últimos anos ("Cordel Encantado", "A Vida da Gente", "Lado a Lado").

Dona Xepa, a personagem, é a simplicidade em pessoa, enquanto "Dona Xepa", a novela, segue a mesma linha. E este é seu maior mérito. Nada de ação e perseguições automobilísticas mirabolantes ("Vidas em Jogo"), nada de dramas pesados ("Máscaras"), nem a caricatura popularesca ("Balacobaco"). Desta vez, a Record preferiu – sabiamente – o feijão com arroz simples, mas bem feito. O que é uma ótima forma de abrir caminho e reconquistar audiência perdida com as duas últimas novelas.

Tudo em "Dona Xepa" flui bem, afinal tem poucos personagens e foi concebida para ser uma novela curta – e que assim seja. A trama é um clássico do folhetim maniqueísta: a mãe simplória, mas carismática (criada exclusivamente para a empatia com público), é rejeitada pelos filhos carreiristas. O trio de protagonistas tem atores muito bem em cena. Thaís Fersoza (Rosália, a filha) esbanja na tela beleza e ambição. O jovem Arthur Aguiar (Edson, o filho), igualmente muito bem, na pele de um tipo difícil: o personagem dúbio.

Mas é Ângela Leal quem dá o tom da novela. Xepa é uma personagem que facilmente pode cair na caricatura ou no exagero. Ângela parece medir cada gesto e cada entonação de voz com sua Xepa. A atriz está contida em uma personagem pouco contida. Este parece ser o segredo de sua Xepa.

Das tramas paralelas, ganha mais destaque a que envolve a família Pantaleâo. Luiza Tomé faz o contrário de Ângela Leal. Sua Meg Pantaleão é a caricatura deslavada da perua rica. Salta aos olhos quando a atriz contracena com Angelina Muniz, mais contida e mais segura em cena. Este caminho seguido por Meg, em um primeiro momento, só destoa do resto da novela. Talvez seja Meg a perua rica presa a padrões de beleza, o contraponto com Xepa, a feirante velha e pobre.

Outro destaque de "Dona Xepa" é a direção (geral de Ivan Zettel), que parece brincar com a edição de imagens. A história se passa em uma feira e tem uma protagonista feirante. A novela podia ser toda uma gritaria só, desorganizada e com muito barraco. Mas não. A direção trabalha bem o contraste com a imagem da feira. "Dona Xepa" – acima de tudo – é uma novela honesta, como sua protagonista. Despretensiosa e leve. Um bom recomeço para a Record.

Saiba mais sobre "Dona Xepa" no site Teledramaturgia.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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