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“Sangue Bom” expõe o universo das subcelebridades e faz refletir sobre a questão

Nilson Xavier

21/07/2013 14h08

Josafá Filho e Malu Mader em cena de "Sangue Bom" (Foto: Divulgação/TV Globo)

"Fogueira das Vaidades" poderia ser também um bom título para "Sangue Bom", a novela das sete da Globo. Além de entreter simplesmente, um dos grandes méritos da trama é trazer à tona os códigos e mazelas do mundo das pseudocelebridades, subcelebridades e afins. Sob o viés do nonsense, a novela usa a comédia e o deboche para evidenciar a ânsia generalizada em ficar famoso a qualquer preço, sem esforço ou mérito, a luta para se manter em evidência, e o preço pago quando se abre mão da vida privada em favor da pública.

Tendo a indústria da fofoca como um dos panos de fundo, a novela leva a refletir sobre esse universo sui-generis, em que o parecer é mais importante que o ser, e uma tênue linha separa o real do fictício. Um universo cada vez mais destrinchado pelo cidadão comum nesses tempos de Internet e celulares com câmeras potentes – basta estar no local certo na hora certa para qualquer um facilmente virar um paparazzo acidental.

Duas frases chamaram a atenção no capítulo deste sábado (20/07) e resumem bem o que a novela se propõe.

"Nesse meio, tudo o que parece, é!"
A frase se refere à sexualidade de Felipinho (Josafá Filho). Se ele é gay ou não, pouco importava para a trama até então. Nem a mãe do rapaz, Rosemere (Malu Mader), já havia se perguntado isso. Tanto que, diante da celeuma que virou a questão, ela nega veementemente que o filho seja gay e acaba expondo o próprio preconceito. Os autores apontam a bola de neve criada pela mídia ao explorar à exaustão – ou até enquanto vender – um detalhe particular da subcelebridade, que veio à tona voluntariamente ou não. Na cabeça do deslumbrado "Famosinho da Casa Verde", aparecer em público com uma mulher bonita (a Mulher Mangaba/Ellen Roche, no caso) virou questão de sobrevivência para manter-se em evidência – ou para negar sua própria homossexualidade.

"Fiz um curso de teatro pela Internet"
Se existe mesmo curso de teatro pela Internet, não sei, mas ficou claro que a intenção da frase era ironizar. Na novela, a secretária e aspirante a atriz Mari (Thaís Lago) ajudou a vilã Bárbara Ellen (Giulia Gam) em mais uma de suas armações em troca da promessa de um papel em um filme. É claro que Bárbara não cumpriu com o trato, e Mari ameaça jogar a verdade no ventilador. De novo, o vale tudo por um lugar ao sol. O mais engraçado é que a frase dita pela personagem aspirante a atriz caberia perfeitamente na boca da própria atriz em questão. Quem sabe sua escalação não foi proposital?

Na lógica de alguns personagens de "Sangue Bom", talento é de menos, e parecer é mais importante que ser. Ter também. E parecer que tem, mais ainda. Finalizo eu também com duas frases de efeito. A fama é efêmera. E só se estabelece quem tem talento e competência. Mesmo porque, a indústria da subcelebridade e da fofoca se renova e se recicla incessantemente.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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