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Romance central de “Saramandaia” não empolga a audiência

Nilson Xavier

28/07/2013 16h06

José Mayer e Lília Cabral em "Saramandaia" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Com a pior média de audiência, até o momento, entre as novelas das onze da Globo, "Saramandaia" já aciona o alerta vermelho. Mais de um mês no ar e a trama de Ricardo Linhares amarga 15 pontos no Ibope da Grande São Paulo, enquanto suas antecessoras tiveram números bem mais expressivos: "O Astro" (2011), 21 pontos e "Gabriela" (2012), 20 (média até a quinta semana de exibição).

Vou resumir as qualidades de "Saramandaia", que são muitas: elenco de primeira, boa direção, estética atraente, produção caprichada. Atenho-me ao que talvez possa ser um dos motivos para a aparente indiferença do público: o roteiro. A história de "Saramandaia" não empolga. Mais especificamente seu romance central. Nem vou comparar com a trama original de Dias Gomes (de 1976) porque a que está no ar é outra novela. Mas o que a outra tinha em ousadia, esta peca pela falta de.

O romance maduro (e secreto) entre Zico Rosado (José Mayer) e Vitória Vilar (Lília Cabral) é insípido. Pela primeira vez vivendo um par romântico, os atores têm demonstrado pouca química em cena (eles viveram apenas casais separados anteriormente, em "História de Amor", "Viver a Vida" e "Fina Estampa"). A própria Vitória é uma das personagens mais "desatraentes" – para usar o linguajar da novela – de Lília Cabral nos últimos tempos. Já Zico fica bastante interessante quando sua verve coronelista é explorada. Mais "bacanoso" ainda quando solta formigas pelo nariz. Mais formigas e menos cama para Zico!

Outros pares românticos em "Saramandaia" mereciam ser alçados ao posto de protagonistas, no lugar de Zico e Vitória: Aristóbulo e Risoleta (Gabriel Braga Nunes e Débora Bloch) e João Gibão e Marcina (Sérgio Guizé e Chandelly Braz). São romances com muito mais atrativos e possibilidades do que o casal maduro que esconde um amor. Por mais que as diferenças políticas e familiares possam intervir na relação de Zico e Vitória, fica difícil embarcar na história desse "Romeu e Julieta cincoentão".

Ainda nos mesmos núcleos familiares dos Vilar e dos Rosado, emergem outras tramas desintessantes. A Zélia de Leandra Leal está tão chata que anula a participação de seu par Lua Viana, fazendo o ator Fernando Belo sumir em cena. E ainda Laura (Lívia de Bueno), sempre com a cara triste e adoentada.

Por outro lado, "Saramandaia" tem uma galeria de personagens riquíssimos que poderiam ir além do que já rendem: Dona Redonda e Seu Encolheu (Vera Holtz e Matheus Nachtergaele), Seu Cazuza e Maria Aparadeira (Marcos Palmeira e Ana Beatriz Nogueira), Tibério Vilar e Dona Candinha (Tarcísio Meira e Fernanda Montenegro) e Dona Pupu e Belisário (Aracy Balabanian e Luiz Henrique Nogueira). Ou seja, "Saramandaia" é um prato cheio para agradar. Mais ousadia e uma alteração de foco na história poderiam gerar mais possibilidades e atrair o público, deixando-o "intereçoso" pela novela.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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