Topo

“Sangue Bom” poderia se chamar “Biscoito Fino”

Nilson Xavier

25/08/2013 13h31

Fabinho (Humberto Carrão), Plínio (Herson Capri), Amora (Sophie Charlotte) e Bento (Marco Pigossi) em "Sangue Bom" (Foto: Divulgação/TV Globo)

O título da novela das sete da Globo, "Sangue Bom", se justificou recentemente, com a troca de um exame de DNA (por sinal, artifício já usado em outras novelas, inclusive na atual trama das nove, "Amor À Vida"). Afinal, qual o "sangue bom" para ser filho de um homem valoroso, bom, justo e, ainda por cima, milionário? O sangue igualmente valoroso, bom e justo, certo? Ou o sangue de um sujeito mau caráter e escroque? O público da novela já sabe que o "sangue bom" não é tão bom assim.

O filho verdadeiro de Plínio Campana (Herson Capri) vai herdar a fortuna do pai. O cineasta queria que fosse o bom moço Bento (Marco Pigossi). Mas é o mau caráter Fabinho (Humberto Carrão). Através de uma armação da vilã Amora (Sophie Charlotte), a troca dos resultados do exame foi feita para que Bento, seu amado, ficasse com a fortuna e ainda se afastasse da rival dela, Malu (Fernanda Vasconcellos) – Malu também é filha de Plínio. E de quebra, Amora se vinga de Fabinho, desafeto de mais da metade dos personagens da trama.

A novela se chama "Sangue Bom", mas bem que poderia se chamar "Biscoito Fino" – atenção novelistas: um bom título para novela, diga-se de passagem. Com o melodrama inerente a todo bom folhetim, bem dosado com humor (condizente com o horário), personagens carismáticos e um texto afiadíssimo, a novela de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari não é nenhuma campeã de audiência – a média no Ibope está na casa dos 24,5 pontos. Mas é um prato cheio de diversão da melhor qualidade, em todos os sentidos.

Paternidades desconhecidas, duplas identidades, vingança, amores impossibilitados por conta de intrigas – todos, ingredientes manjadíssimos das nossas novelas. Mas recheados com um humor patamares acima do que temos visto na TV aberta ultimamente. Para fazer refletir, a novela tem como pano de fundo uma crítica aguçada ao mundinho das subcelebridades, em que "parecer" é mais importante que "ter", ou que "ser". "Sangue Bom" é biscoito fino, para ser degustado tão somente como entretenimento – de boa qualidade.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier