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Em “Sangue Bom”, nada é o que parece ser

Nilson Xavier

14/10/2013 23h50

Marco Pigossi e Marco Ricca, em cena de "Sangue Bom" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Para os personagens de "Sangue Bom" – a novela das sete da Globo – as coisas nunca são o que parecem. Ou são do jeito que eles gostariam que fossem. A novela trata da dualidade entre o ser e o parecer. Como pano de fundo, o mundinho das subcelebridades, em que parecer é mais importante que ser. Mas em uma análise mais profunda, percebemos que a história vai além.

Plínio (Herson Capri) e Wilson (Marco Ricca) descobriram filhos cujas existências desconheciam. Plínio queria que seu filho de sangue bom – o que o exame de DNA comprovaria – fosse Bento (Marco Pigossi), o garoto sangue bom da novela. Mas é Fabinho (Humberto Carrão), o desajustado social que só pensava em se dar bem – um tipinho escroque, odiado pela maioria dos personagens da trama.

Dona Glória (Yoná Magalhães) desejava que Bento fosse seu neto. E, ante a cumplicidade que existe entre ambos, Bento adoraria que ela fosse sua avó. Mas Bento nunca ia querer que Wilson, seu maior desafeto, fosse seu pai. E nem Wilson que Bento fosse seu filho. Qual não foi a surpresa de Bento ao descobrir que Wilson, que ele odeia tanto, é seu pai biológico. E – pior – que a amada Dona Glória foi a responsável por tê-lo abandonado na infância. Como lidar com esse turbilhão de sentimentos inesperados? Para piorar, sua amada Amora (Sophie Charlotte), não é nada daquilo que ele imaginava.

Todo mundo odiava Fabinho, que parecia ter sido mesmo o responsável por tudo de ruim que acontecia na história. Mas, além das burradas que ele andou aprontando, o vilãozinho também foi vítima de Amora, que armou mil e umas contra o rapaz. Descobertas suas falcatruas contra Fabinho, agora é Amora que vai ter provar que não foi ela a sabotadora no parque de diversões de Wilson. Amora provando do próprio veneno.

De novo, os autores da novela brincam com o ser e o parecer. O ser pelo mérito e o parecer pela fama. Poderíamos fazer ainda várias outras ligações com os demais personagens de "Sangue Bom". Renata (Regiane Alves) foi cachorra e enganou o noivo Érico (Armando Babaioff), mas arrependeu-se e não voltou a ter o mesmo comportamento. Agora é Érico que vai à forra, com a diferença de que ele está sofrendo de uma doença que o faz agir bipolarmente. Qual é o verdadeiro Érico? Sua essência ainda mora ali?

Verônica (Letícia Sabatella) livrou-se de uma vida chata e criou uma personagem para extravasar seu outro eu – a cantora Palmira Valente, bem mais… valente, digamos, que sua personalidade primeira. Da mesma forma, Damaris (Marisa Orth) libera seu desejo contido em sua outra metade, a devassa Gladis, mais permissiva que sua reprimida personalidade original. Também Tina (Ingrid Guimarães) – para se vingar de Bárbara Ellen (Giulia Gam) – se fez passar por outra pessoa: a empregada à la Nina/Débora Falabella de "Avenida Brasil". Enquanto a própria Bárbara Ellen se imagina uma atriz talentosa, coisa que ela não é. E por aí vai.

Já que Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari referenciam tanto outras novelas, seria bastante interessante se, ao final, o arrependido Fabinho, depois de rico, finalmente, se revelasse o que sempre foi, um calhorda – à la Felipe Barreto, o protagonista-vilão da novela "O Dono Mundo" (interpretado por Antônio Fagundes, em 1991).

Vai ver certo estava Filipinho (Josafá Filho), que não aceitou parecer ser algo que ele não era, abdicou do título de Famosinho da Casa Verde, e se mandou da novela.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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