Apesar da estética sofisticada, “Joia Rara” não passa de um bom folhetim
Vejo muita similaridade entre "Joia Rara", a atual trama das seis da Globo, e "Cordel Encantado", a novela anterior da dupla Duca Rachid e Thelma Guedes. Nem poderia ser diferente, já que são das mesmas autoras e dirigidas por Amora Mautner (em núcleo de Ricardo Waddington). E, talvez, por isso mesmo, possamos prever em "Joia Rara" os mesmos percalços pelos quais passou "Cordel Encantado".
Ambas são belas produções, esteticamente falando, e chamam a atenção justamente por isso: pela embalagem de encher os olhos. Iluminação, cenários, figurinos, arte, trilha sonora, tudo muito perfeito, muito lindo. As duas novelas têm elencos bem escalados, atores bem dirigidos, personagens ricos e carismáticos, drama e humor bem dosados.
"Cordel Encantado" até trazia um sopro de originalidade, na trama que misturava contos de fadas com literatura de cordel. "Joia Rara" tem como atrativo o budismo dos Himalaias no Rio de Janeiro dos pós Segunda Guerra. Sem a pretensão de difundir a filosofia budista, a novela usa o tema apenas como pano de fundo, como enfeite. A menina Pérola (Mel Maia), encarnação de um líder budista, é o que desencadeia a difícil relação do casal Franz e Amélia (Bruno Gagliasso e Bianca Bin) com o pai dele, o vilão Ernest (José de Abreu).
Ernest é um vilão perfeito, folhetinescamente falando. Arrogante, poderoso, com ares de nazista, se achando acima do bem e do mal e capaz de controlar a vida de todos. Também impede a felicidade da mulher que tomou à força, Iolanda (Carolina Dieckmann). José de Abreu está ótimo no personagem, lhe deu personalidade, se distanciando assim do Nilo de "Avenida Brasil" (seu trabalho anterior).
Ao lado de Ernest, está o filho bastardo, Manfred, "mau feito um pica-pau", com Carmo Dalla Vecchia pouco sutil, exagerando nas caras e bocas. E Silvia Zampari, personagem de Nathalia Dill, que, parece, finalmente encontrou um tom apropriado para sua vilã. Ao desprender os cabelos e revelá-los belos e cacheados, Silvia está mais solta, menos contida, é quase uma vilã debochada – ótimo diferencial para os outros vilões da novela. Não estava bom aquele tom "madrasta má da Disney de coque".
Novamente traço um paralelo com "Cordel Encantado". Esta novela rendeu ótimos embates entre vilões e mocinhos. Apenas pecou quando a luta entre Timóteo (Bruno Gagliasso) e Jesuíno (Cauã Reymond) descambou para a repetição, na briguinha entre gato e rato. Foi quando a novela começou a andar em círculos, como em um desenho animado. Timóteo prendia Jesuíno, que conseguia fugir para depois ser preso novamente, e assim sucessivamente.
Percebe-se que Ernest (José de Abreu) e Mundo (Domingos Montagner) são o gato e o rato da vez. "Joia Rara", por enquanto, tem rendido boas reviravoltas com as intrigas e dramas dos personagens. Ela e "Cordel Encantado" têm em comum vilões que impedem a qualquer custo a felicidade dos mocinhos, em nome de amor, vaidade ou poder. Mas isso é inerente a todo e qualquer bom folhetim.
Talvez, por isso mesmo, "Joia Rara" seja boa. Independente da estética sofisticada, a novela das seis não passa de um bom folhetim. Apenas isso. Sem nenhuma inovação ou pretensão. E é melhor ainda quando o folhetim vem embalado num bonito papel de presente. Agora só resta torcer para que o conteúdo desta bela embalagem não se revele um desenho animado cansativo.
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