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Balanço: 2013, um ano morno para a Teledramaturgia

Nilson Xavier

17/12/2013 01h03

Taís Araújo e Marcelo Adnet em

Taís Araújo e Marcelo Adnet em "O Dentista Mascarado", mico do ano (Foto: Divulgação/TV Globo)

Se 2012 foi um ano que trouxe ventos renovadores para a Teledramaturgia – com os sucessos de "Avenida Brasil", "Cheias de Charme" e "Carrossel" -, o mesmo não pode ser dito de 2013. Pouco no ano que finda foi representativo o bastante para ser comparável a 2012.

Por exemplo: "Amor à Vida", tem ótima repercussão, mas não é nenhum estouro de audiência, e – ainda – é alvo de muitas críticas. O grande destaque, sem dúvida, é Mateus Solano, o ator do ano, irrepreensível com seu Félix. Pena que Walcyr Carrasco teve que espichar sua novela, cansando com suas tramas de apelo cômico e popular, que mais remetem ao "Zorra Total". Apesar do texto teatral – pouco condizente com uma trama contemporânea do horário nobre -, o autor merece mérito pela sua capacidade em cativar o público com bons ganchos e entrechos. E personagens caricatos tornam-se carismáticos na pele de atores talentosos. Uma ótima novela ruim.

O ano de 2012 começou com audiência em baixa, o que já é considerado um fator comum para a época de calor, Horário de Verão e festas (Réveillon e Carnaval). Às seis horas, "Lado a Lado" não empolgou o grande público e acabou por registrar a menor média de audiência de uma novela das seis da Globo. A produção de encher os olhos, que retratava com requinte o Rio de Janeiro do início do século passado, ficou devendo em agilidade narrativa. Produção, texto e elenco excelentes não foram suficientes para fazer o telespectador correr para casa às 18 horas para ligar a TV. Curiosamente, "Lado a Lado" levou o Emmy de melhor novela de 2012, desbancando "Avenida Brasil", sua mais forte concorrente – muito provavelmente porque seu clipe de apresentação era mais atraente aos olhos dos gringos do que os clipes das demais novelas.

"Guerra dos Sexos", de Silvio de Abreu – que foi sinônimo de inovação na Teledramaturgia -, teve um remake para lá de insosso e que deixou muito a desejar. A regravação desta novela perdeu o que ela tinha de melhor: a graça. Passou batido.

"Salve Jorge" teve o mérito de apresentar um tema urgente e pertinente: o tráfico de pessoas. Mas ficou nisso. Na teoria foi ótima. Mas na prática, a novela pecou por uma série de falhas, do roteiro à direção. A exaustão do estilo de Glória Perez – com tramas em culturas exóticas, repletas de bordões e dancinhas – só conseguiu a antipatia do público, que custou a embarcar no voo proposto pela autora. Quando conseguiu finalmente conquistar, já era tarde demais: a novela terminou com uma das menores médias de audiência do horário das nove da Globo.

O SBT teve muitos motivos para sorrir com sua dramaturgia na virada de 2012 para 2013. A infantil "Carrossel" virou um fenômeno instantâneo que se estendeu até o seu término – prolongado. E como a emissora paulista gosta de vencer pelo cansaço, providenciou outra novela nos mesmos moldes: o remake de "Chiquititas". Dessa vez, sem a força da novela anterior, mas, pelo menos, garantindo a preferência da molecada. Vamos ver até quando a fórmula "remake de sucesso infantil do passado com um número prolongado de capítulos" vai funcionar. Já está na hora de variar esse cardápio.

Dá para meter "Balacobaco" e "Dona Xepa", da Record, num balaio só. As duas novelas não conseguiram estancar os baixos números na audiência, que começaram a cair com "Máscaras", em 2012. O que a trama de Lauro César Muniz tinha de difícil de digerir pelo grande público, "Balacobaco " e "Dona Xepa" tiveram de popularesco e de fácil entendimento. Mesmo com essa diferença de estilos, a audiência continuou baixa. A Record então lançou mão de sua maior arma para 2013: a contratação do ex-global Carlos Lombardi, que atualmente apresenta um trabalho maduro com sua "Pecado Mortal", mas nada muito diferente do que ele sempre fez na Globo. E o público segue indiferente às produções da Record. Que fase!

"Flor do Caribe" trouxe a beleza das praias nordestinas com um gingado caribenho, em meio a explosões de minas e voos de caças aéreos. Uma novidade, mas que se revelou o feijão-com-arroz de sempre de Walther Negrão. Muito bem feitinho, por sinal, valorizado pelo apuro técnico mais fotografia sempre interessantes do diretor Jayme Monjardim.

"Sangue Bom", da dupla Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, não foi um campeão de audiência, muito menos um estouro de repercussão. Mas, em minha opinião, cumpriu muito bem o seu papel de entreter às sete da noite. Humor ora escrachado, ora refinado, tendo como pano de fundo uma crítica ao mundinho das subcelebridades, em meio a uma galeria de personagens risíveis. A melhor novela do ano!

O remake de "Saramandaia" começou cambaleante, parecia difícil de engrenar. Mas, da metade para o final, revelou-se uma grata surpresa. O texto inspirado de Ricardo Linhares em momento algum comprometeu a novela original de Dias Gomes. Pelo contrário: foi se distanciando, ganhando forma e ares próprios. Movimentos populares e uma discussão pertinente sobre a intolerância caíram como uma luva para aquele momento. Aliados a efeitos técnicos cinematográficos e um visual "timburtoniano". A outra melhor novela do ano!

Personagens de "Saramandaia", um dos destaques de 2013 (Foto: Divulgação/TV Globo)

"Joia Rara" segue a cartilha de "Cordel Encantado" (de 2011), das mesmas autoras, Thelma Guedes e Duca Rachid, mas sem o mesmo encantamento. Tudo muito bonito, bem produzido, de bom gosto. Mas, uma história morna e sem novidade alguma, além do bom e velho folhetim. Merece destaque pela direção e alguns bons atores em cena, que conseguem dar verdade a personagens tão maniqueístas.

"Além do Horizonte" já é o mico do ano. Em novela, não adianta querer reinventar a roda. Uma temática pouco folhetinesca é um risco. Convenhamos que é difícil de embarcar nesse papo de busca pela felicidade dentro da proposta realista da trama. "Além do Horizonte" parece uma novela que não quer ser novela.

Outro mico do ano foi a série "O Dentista Mascarado", da dupla Fernanda Young e Alexandre Machado. A estreia de Marcelo Adnet na Globo (que não era estreia, mas uma volta) foi marcada por um personagem sem graça em situações bizarras que, quando não constrangiam, pendiam para o gosto duvidoso.

Em contrapartida, tivemos "Pé na Cova", um texto afiadíssimo de Miguel Falabella, que mesclou graça com melancolia em meio a personagens carregados no tom carnavalesco – que o digam Darlene (Marília Pêra), Luz Divina (Eliana Rocha) e Marcão/Marcassa (Maurício Xavier).

A microssérie "O Canto da Sereia", exibida em janeiro, também merece destaque. Uma produção caprichada, direção de primeira e elenco à vontade, com grandes momentos. Já "A Mulher do Prefeito" tem tudo isso, mas, diferentemente, não empolgou. Bem produzida e bem escrita, talvez teria funcionado melhor se fosse exibida mais cedo, em outro dia que não a sexta-feira. Enquanto isso, "Malhação", entra ano e sai ano, apresenta um texto novo, derrapa na audiência, sofre alterações e consegue se levantar na reta final. Como escola (para roteiristas e atores) continua funcionando.

Por fim, a Record deve seguir produzindo minisséries bíblicas. "José do Egito" pecou pelo excesso: o Egito da Record parecia Egito de desfile de escola de samba. Mas garantiu boa audiência e a emissora deve continuar a apostar nesse filão – tem seu público cativo. O único senão: a exibição semanal (capítulos uma vez por semana) quebra o seguimento da ação. Afinal, "José do Egito" era para ser uma minissérie dividida em capítulos, e não um seriado dividido em episódios.

Micos de 2013:
– os furos de direção e roteiro de "Salve Jorge";
– "Guerra dos Sexos";
– "O Dentista Mascarado";
– "Além do Horizonte".

Destaques:
– "O Canto da Sereia";
– "Pé na Cova";
– "Sangue Bom";
– "Saramandaia";
Patrícia Pillar, como Constância, em "Lado a Lado";
Giovanna Antonelli, como Helô, e Totia Meirelles, como Wanda, em "Salve Jorge";
Marília Pêra, como Darlene, e Eliana Rocha, como Luz Divina, em "Pé na Cova";
Ígor Rickli, como Alberto, e Sérgio Mamberti, como Dionísio, em "Flor do Caribe";
Giulia Gam, como Bárbara Ellen, em "Sangue Bom";
Vera Holtz, como Dona Redonda, em "Saramandaia";
– Mateus Solano, como Félix, e Elizabeth Savalla, como Márcia, em "Amor à Vida".

Observação:
Este texto refere-se apenas à Teledramaturgia da TV aberta. Deixo de fora as produções feitas para a TV a cabo, como "Sessão de Terapia", "Copa Hotel", "3 Teresas", "Vai que Cola", "A Menina Sem Qualidades" e outras.
Também me limito às estreias de 2013, não cito "A Grande Família", "Tapas e Beijos", "Louco Por Elas, "A Lei e o Crime" e outras.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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