"Meu Pedacinho de Chão" pode fazer a Globo retomar sua programação infantil
Nilson Xavier
13/04/2014 13h13
Geytsa Garcia (Pituca) e Tomás Sampaio (Serelepe) em "Meu Pedacinho de Chão" (Foto: Divulgação/TV Globo)
ou Pequena História da Telenovela Infantil Brasileira
Contrariando o que se alardeou há dois anos, quando se discutia o sucesso da novela "Carrossel" no SBT, a Globo investe em programação infantil sim. É só voltar os olhos para a novela "Meu Pedacinho de Chão", a estreia dessa semana. Por conta da inesperada repercussão de "Carrossel" (entre 2012 e 2013), chegou a ser dito, na época, que a Globo não se interessava mais por esse filão e que deixara a programação infantil para os canais pagos, já que havia tirado a "TV Globinho" de sua grade diária e estreado o canal Gloob na TV por assinatura. O SBT, um canal com tradição em programação para crianças, segue firme e forte com a substituta de "Carrossel": o remake de "Chiquititas", há quase um ano ar. Teledramaturgia infantil existe desde a inauguração da TV no Brasil, lá na década de 1950, seja na forma de teleteatros (como o "Teatrinho Trol") ou seriados voltados para o universo infantil, como "Falcão Negro", "Capitão 7" e o "Sítio do Picapau Amarelo" (de Júlio Gouveia e Tatiana Belinky).
A Tupi continuou investindo em novelas infantis nos anos 1970: "O Velho, o Menino e o Burro" (1975-1976, com Douglas Mazola), "Papai Coração" (1976, com a então menina Narjara Turetta) e "Cinderela 77" (1977, com Ronnie Von e Vanusa). A Band também explorou o apelo infantil em novelas como "Meu Pé de Laranja Lima" (duas novas versões, em 1980 e 1998), "Braço de Ferro" (1983) e "Floribella" (2005-2006). No SBT, a primeira versão de "Chiquititas", exibida entre 1997 e 2001, foi um sucesso. Isso sem
Com o fechamento da TV Excelsior, a Globo reprisou "A Pequena Órfã", em 1971, às 18 horas, inaugurando esse horário com novelas. Na sequência, lançou sua primeira produção própria para as seis, "Meu Pedacinho de Chão", de Benedito Ruy Barbosa (uma coprodução com a TV Cultura de São Paulo), aproveitando no elenco a garota Patrícia Aires, a pequena órfã (na verdade, ela era filha do ator Percy Aires). Patrícia foi a Pituca da "Meu Pedacinho" original, e o garoto Aires Pinto era o Serelepe. A Globo continuou investindo em produção infantil para as seis horas naquele início da década de 1970: as novelas "Bicho do Mato" (1972) e "A Patota" (1972-1973, de Maria Clara Machado), e o seriado "Shazan, Xerife e Companhia" (reprisado às seis da tarde entre 1973 e 1974, com Paulo José e Flávio Migliaccio). Só a partir de 1975 que emissora dedicou o horário das seis para novelas adultas, com adaptações de romances clássicos da literatura brasileira.
Teledramaturgia infantil de qualidade sempre existiu na TV brasileira. A TV Cultura que o diga – responsável pelos premiados "Mundo da Lua" (foto acima) e "Castelo Rá-Tim-Bum". O sucesso de "Carrossel" no SBT, entre 2012 e 2013, veio provar que as crianças estão órfãs de programas para elas no horário nobre da TV aberta. "Meu Pedacinho de Chão" pode ser um passo importante para a retomada da Globo neste segmento.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.