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“Em Família”: Ninguém torce por Laerte e Luiza

Nilson Xavier

13/05/2014 11h04

Gabriel Braga Nunes e Bruna Marquezine em cena de

Gabriel Braga Nunes e Bruna Marquezine em cena de "Em Família" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Nesta segunda-feira (12/05), na novela "Em Família", o autor, Manoel Carlos, levantou uma questão que diz muito sobre seu folhetim. Em uma das cenas que fechou o capítulo, Luiza (Bruna Marquezine) desabafou com seu amor, Laerte (Gabriel Braga Nunes), que nem o pai dela, Virgílio (Humberto Martins), nem a mãe, Helena (Júlia Lemmertz), torcem pela relação dos dois. Ninguém da família a apoia, nem os amigos. E Luiza ainda tem que enfrentar Verônica (Helena Ranaldi), a ex de Laerte, Shirley (Vivianne Pasmanter), eternamente apaixonada por ele, e a oposição de Selma (Ana Beatriz Nogueira), a mãe dele.

Luiza:
"São muitas vozes contra a minha voz (…) Não tem ninguém do meu lado (…) não tem ninguém torcendo pelo nosso amor (…) São milhões de pessoas contra e não tem ninguém a favor."

Laerte:
"Eu não posso concordar que você dê tanta importância assim para a opinião de tanta gente. Eu tenho a convicção de que, de tudo o que você falou, a única coisa que realmente importa é o nosso amor."

Luiza está coberta de razão. São milhões de pessoas contra… Não por acaso, "Em Família" enfrenta a baixa audiência: uma média semanal que não chega na casa dos 30 pontos no Ibope da Grande São Paulo, a menor já registrada no horário das nove. E a maior parte do público rejeita o amor de Luiza e Laerte, o casal principal da trama. Luiza – muito bem defendida por Bruna Marquezine, diga-se – não tem a simpatia do telespectador: é voluntariosa e mimada – como sua mãe Helena foi na juventude.

Já Laerte… bem, este está mais para vilão do que para mocinho nessa história. No passado, Laerte enterrou o pai de Luiza vivo após uma briga – que deixou Virgílio com uma enorme cicatriz no rosto, marca das desavenças dos dois. Laerte tinha ares de maluco, foi obcecado por Helena, seu amor de juventude, e, após um afastamento de anos, retornou, e, agora, investe na filha de Helena e Virgílio. Manoel Carlos construiu seus personagens de uma forma que fica difícil mesmo a torcida.

Cabe aqui uma crítica à interpretação de Gabriel Braga Nunes. Sempre com a voz pausada e um olhar gélido e distante, o ator não passa emoção alguma ao seu personagem. Muito diferente do Laerte da segunda fase da novela, vivido pelo jovem Guilherme Leicam, que carregou na emoção para demonstrar toda a loucura de Laerte. Tudo bem que se passou muito tempo da segunda para a terceira fase, e as pessoas mudam com o tempo e tal. Mas a diferença entre as duas interpretações é gritante. E a atual falta de carisma do personagem não ajuda em nada para que o casal Laerte e Luiza ganhe a simpatia do público.

Cabe também aqui um elogio ao capítulo dessa segunda-feira de "Em Família", repleto de momentos densos em diálogos ótimos e interpretações com grande carga dramática. Além do desabafo de Luiza, teve uma ótima sequência em que Clara (Giovanna Antonelli) deixou sua mãe, Chica (Natália do Valle), chocada ao revelar que está de fato interessada na fotógrafa Marina (Tainá Muller) – outro casal difícil de engolir esse, Clara e Marina (mas esse é assunto para outro texto). Também o alcoólatra Felipe (Thiago Mendonça), que estava bêbado quando deu um depoimento em uma reunião do A.A. (Alcoólicos Anônimos) e depois foi encontrado na praia pela mãe, Chica.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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