“Pecado Mortal” foi uma novela diferente entre as produções da Record
"Pecado Mortal", a novela da Record que terminou nesta sexta-feira (30/05), esteve e manteve-se dentro do que se esperava de uma trama de Carlos Lombardi: diálogos rápidos e cheios de sarcasmo, piadinhas de cunho sexual e/ou duplo sentido, torsos nus, relações familiares conflituosas, muita ação, tiro, porrada e bomba. Nada muito diferente do já conhecido universo do novelista, por seus trabalhos anteriores na Globo.
Mas a grife Carlos Lombardi – estreia na Record – não foi o suficiente para chamar a atenção do público. "Pecado Mortal" até mudou de horário: das 22h30 foi para as 21h15, batendo de frente com a principal novela da Globo. Estratégia ou descaso da Record?… O folhetim fecha em 6 pontos no Ibope da Grande São Paulo, empatando entre as menores médias das novelas da Record, em dez anos. Se bem que audiência em declínio é um fenômeno que atinge o horário nobre de todas as emissoras.
O capítulo de estreia foi excelente – uma primeira fase que mostrou os antecedentes dos protagonistas. Ao longo da novela, alguns desdobramentos e cenas marcaram. Como o sonho de Carlão (Fernando Pavão), em que os personagens estavam com papeis invertidos, em uma espécie de "universo paralelo" dentro da trama da novela. Ou a ótima sequência exibida nesta semana final, em que Carlão se viu obrigado a atirar no pai, Michelle Vêneto (Luiz Guilherme), para que ele não sofresse ao morrer queimado pelo vilão Picasso (Victor Hugo).
Parece que a produção de "Pecado Mortal" optou por uma reconstituição de época (a história se passava na década de 1970) atemporal, que misturava elementos dos anos 1970 (como alguns cenários, automóveis, figurinos) com referências atuais. Estranhou no início, mas funcionou na trama de Lombardi, muito pautada em gírias e expressões modernas – também nos corpos sarados e bombados, quando este não era um padrão de beleza de quarenta anos atrás.
A história ziguezagueou, centralizada na perseguição de Picasso a Carlão, uma briga de gato e rato sem fim. Mas que até segurou-se bem, graça ao talento dos atores. Aliás, Victor Hugo foi, em minha opinião, a grande revelação da novela. Desde o início, uma interpretação segura e convincente. Fernando Pavão, tendo nas mãos o papel do herói, teve a seu favor o porte físico. O apelido de Carlão – Poderoso Thor – não foi à toa. "Pecado Mortal" mais pareceu um melodrama de super-herói de histórias em quadrinhos. Carlão – o herói – e Picasso – o vilão-mor. Só faltou a capa. E isso não é uma crítica negativa – pelo contrário, casou com a proposta de Lombardi. "Pecado Mortal" foi, acima de tudo, a história de um super-herói.
Além de Fernando Pavão e Victor Hugo, o elenco teve outros destaques, como Paloma Duarte (Doroteia), sempre ótima em interpretações intensas, Simone Spoladore (Patrícia), Luiz Guilherme (Michelle), Felipe Cardoso (Otávio), Gustavo Machado (Danilo), Carla Cabral (Laura) e Denise Del Vecchio (Das Dores). Pena que a trama de Laura (Carla Cabral) foi perdendo espaço na novela. Pena que Jussara Freire saiu da novela – sua Donana era uma das melhores personagens e a atriz estava excelente.
Além da saída de Jussara, a produção sofreu outras baixas: Marcos Pitombo foi remanejado para a nova novela da casa, "Vitória"; Mel Lisboa pediu para sair, priorizando outros compromissos profissionais (o que gerou um desconforto entre a atriz e a produção); o diretor geral, Alexandre Avancini, foi deslocado para outra produção; e a saúde de Betty Lago comprometeu a trama de sua personagem, Stella. O autor ainda teve que fazer alguns ajustes na história: carregou no romance, intensificando cenas de idílio amoroso e familiar entre os protagonistas.
"Pecado Mortal", longe de ser um sucesso, de audiência ou repercussão, cumpriu bem o seu papel – apesar dos pesares. Como já disse em outras ocasiões, é bom quando a televisão diversifica suas opções de entretenimento. E a história de Carlos Lombardi diversificou inclusive entre as produções da Record.
Leia também a entrevista de Carlos Lombardi ao colunista Maurício Stycer: "Quem gosta de novela se afastou da Record", diz autor de "Pecado Mortal".
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