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Destaque de “Em Família”, Jairo é carismático e popular, mesmo sem intenção

Nilson Xavier

18/06/2014 11h24

Vanessa Gerbelli e Marcello Melo Jr. em

Vanessa Gerbelli e Marcello Melo Jr. em "Em Família" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Jairo é um dos personagens mais interessantes de "Em Família". E o ator Marcello Melo Jr. está excelente no papel. Por mais que Jairo seja cheio de defeitos: é machista, preconceituoso, folgado, marrento, truculento às vezes. É um personagem que destoa dos outros tipos da trama de Manoel Carlos. Aliás, Jairo é um personagem que foge do universo do autor: o pobre que não é bajulador.

Marcello Melo Jr. já havia se destacado na novela anterior de Maneco, "Viver a Vida" (2009-2010), quando interpretou o bandido Benê, que, a exemplo de Jairo, também arrebatava o coração de uma moça de classe média-alta – Sandrinha (Aparecida Petrowski). A favela não é muito frequente nas novelas de Manoel Carlos e é interessante analisar como o autor enxerga este mundo distante e, ao mesmo tempo, tão próximo dos endinheirados da Zona Sul carioca.

Maneco não segue a linha de Aguinaldo Silva ou Glória Perez, que exageram na cor e no carisma dos tipos pobres de suas novelas, sejam moradores de favela ou do subúrbio. Manoel Carlos não faz questão de pintar a pobreza de forma popular, ou para agradar o povão. Os ricos ainda são a maioria em seu universo, predominam e comandam suas histórias. O cotidiano de Manoel Carlos nunca deixou de ser o da classe média-alta carioca. E o autor nem parece fazer questão de algo diferente.

Os pobres nas tramas de Manoel Carlos ainda servem, bajulam e paparicam seus patrões ricaços. É assim desde "Por Amor" (1997-1998), mas já haviam empregados puxa-sacos em "Felicidade" (1991-1992) e "História de Amor" (1995-1996). Em "Mulheres Apaixonadas" (2003), Maneco extinguiu o "núcleo pobre": os pobrinhos da trama eram empregados. O núcleo mais pobre que havia era o da personagem Edwiges (Carolina Dieckmann), com uma trama que pouco tinha a ver com luta ou diferenças entre classes sociais.

A truculência de Jairo parece uma resposta de Maneco à cobrança de escrever para agradar classes menos favorecidas – ou a "nova classe C", tão em voga. Em sua última novela, o autor parece não ligar para subterfúgios fáceis para cativar parcelas de público – como o tipo popular carioca, carismático e engraçado, sempre presente em folhetins de Aguinaldo ou Glória. "Sem querer querendo", Jairo é um destaque e tanto ao revelar um lado mais naturalista dos menos favorecidos. Sem cores agradáveis, mas agradável mesmo assim. Jairo tem muitos defeitos. Mas é carismático e engraçado, às vezes. Sem precisar apelar, sem fazer força.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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