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Com proposta interessante, “Geração Brasil” não tem funcionado na prática

Nilson Xavier

06/07/2014 13h43

Murilo Benício, Cláudia Abreu, Isabelle Drummond e Luís Miranda (Foto: Divulgação/TV Globo)

Murilo Benício, Cláudia Abreu, Isabelle Drummond e Luís Miranda (Foto: Divulgação/TV Globo)

Não é o inglês falado na novela, nem o excesso de tecnologia abordado nela. O que tem distanciado o público de "Geração Brasil" é a própria essência da trama, não o que ela traz de diferente para o gênero. Assim como a forma com a qual apresenta a tecnologia (através de seus personagens e relações), "Geração Brasil" é uma novela fria, sem cor e vibração.

E era bastante aguardada, por ser da mesma dupla que lançou o sucesso "Cheias de Charme" – "a novela das Empreguetes" -, em 2012. De certa forma, Filipe Miguez e Izabel de Oliveira não decepcionaram. Como no trabalho anterior, lançaram mão de uma ideia original e boa. Mas, nem toda boa ideia no papel, funciona na prática.

Sim, foi prejudicada pela Copa. A Globo a lançou antes do campeonato começar, como que para estancar a baixa audiência registrada pela produção anterior – "Além do Horizonte" -, e para segurar, durante o período, o novo público que "Geração Brasil" fosse levantar. Até conseguiram manter algum interesse, com os "drops" diários, impulsionados pelo reality-show dentro da trama, que incentivava a interação do público (através do aplicativo "Filma-e").

Mas, passada a apresentação de tramas, personagens e pares românticos, e o "Concurso Geração Brasil", a novela ainda não decolou. A história hoje resulta confusa e inconsistente, mal costurada por flashbacks toscos (Murilo Benício adolescente?) e embaralhada nos horários atrapalhados pela Copa.

As chamadas prometiam algo de tirar o fôlego, com as presenças de Cláudia Abreu, Titina Medeiros, Isabelle Drummond, Ricardo Tozzi e Taís Araújo – de "Cheias de Charme" (entre outros), e ainda Renata Sorrah, Murilo Benício, Lázaro Ramos e Luís Miranda, personificando uma mulher. Ou seja, o elenco escalado é excelente. O telespectador pode, a princípio, ter estranhado as expressões em inglês ou o excesso de nerds e tecnologia. Mas, passados dois meses da estreia, já houve tempo suficiente para o público se habituar com a "vibe" da produção.

Taís Araújo e Leadro Hassun (Foto: Divulgação/TV Globo)

Taís Araújo e Leandro Hassun (Foto: Divulgação/TV Globo)

"Geração Brasil" tem um protagonista – Jonas Marra (Murilo Benício) – pouco cativante, sem carisma. A mulher dele, Pâmela (Cláudia Abreu), no início parecia uma americana boa-praça e engraçadinha. Mas, hoje, a personagem está aquém das reais possibilidades de Cláudia Abreu. Em cena, a atriz parece uma boneca falante. Megan Lily (Isabelle Drummond), pela caracterização anunciada, prometia ser a grande "bad girl" da trama (a perfeita B.I.T.C.H.). Mas ficou só no exagero da promessa: não passa de uma garota mimada.

Cláudia Abreu e Murilo Benício até funcionam em cena: o casal Marra poderia continuar apresentando seus programas juntos. Mas a coisa muda quando separados, cada qual com seu novo interesse amoroso. Não há química entre Cláudia Abreu e o inexpressivo Ricardo Tozzi. E nem entre o sisudo Jonas Marra e Verônica – Taís Araújo ótima, uma das poucas personagens da novela com alguma intensidade.

Renata Sorrah, que também muito prometia, ainda não aconteceu. Um talento desperdiçado em uma participação de luxo. Também Titina Medeiros (entendemos que não dá para ser Socorro, a "personal curica", em toda novela). Lázaro Ramos está com um dos piores personagens da história. A proposta é ser um guru caricato… mas que tivesse alguma história interessante… ou que fosse ao menos engraçadinho.

Além de Taís Araújo, os únicos atores que levam alguma luz a "Geração Brasil" são cômicos. Luís Miranda, como Dorothy – principalmente quando ela cita sua amiga Sheila, personagem de humor que o ator fazia no show "Terça Insana". Um encontro entre Dorothy e Sheila seria hilário (#dica). E Leandro Hassun – que a tudo remete a programas de humor fácil da Globo – se sobressai como o apaixonado sem noção Barata, que imita Jonas Marra para conquistar o coração de Verônica – brilhante a imitação que o ator fez de Murilo Benício no capítulo deste sábado (05/07).

É fato que os números de audiência subiram com a nova novela das sete. Mas ainda estão longe do que a emissora considera um sucesso. E longe do que se esperava do novo folhetim de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira. A proposta de "Geração Brasil" é diferente da de "Cheias de Charme" – nem cabe a comparação. Mas a novela atual não tem o brilho e a cor da anterior (não estou falando da estética), e nem o folhetim bem amarrado e redondinho. E nenhum charme.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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