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Chega às lojas o DVD da novela clássica "Pecado Capital", de Janete Clair

Nilson Xavier

13/07/2014 14h08

Betty Faria e Francisco Cuoco como Lucinha e Carlão em

Betty Faria e Francisco Cuoco como Lucinha e Carlão em "Pecado Capital" (Foto: Divulgação/TV Globo)

Chegou às lojas especializadas o mais novo lançamento da Globo Marcas, que interessa tantos aos saudosistas quanto aos curiosos por Teledramaturgia: o DVD da novela "Pecado Capital" – a versão original, de 1975, escrita por Janete Clair e dirigida por Daniel Filho. Tirando o fato de ser considerada pela crítica especializada a melhor novela da autora, "Pecado Capital" ainda carrega consigo uma série de curiosidades que cercam sua criação.

Em 1975, a TV Globo estava completando dez anos de aniversário. Enquanto Dias Gomes era elogiado por suas novelas no horário das dez da noite ("Bandeira Dois", "O Bem Amado", "O Espigão"), mais políticas, com crítica social e realismo, sua mulher, Janete Clair, tradicionalmente uma escritora do horário das oito, recebia muitas críticas por sua obra cada vez mais fantasiosa, que não condizia com os ares de realismo exigido pelo padrão da época (um movimento que havia se iniciado com "Beto Rockfeller", na Tupi, em 1969).

Em uma decisão que deixou Janete chateada, a Globo a "rebaixou" para o horário das sete, enquanto "promoveu" Dias, substituindo-a no horário das oito, de maior audiência. Com grande alarde, Dias Gomes iria estrear nesta faixa noturna com "Roque Santeiro", enquanto Janete foi para as sete horas escrever a novela "Bravo!", tendo o então novato Gilberto Braga como colaborador.

"Bravo!" já havia estreado, e "Roque Santeiro" estava pronta, com chamadas no ar e vários capítulos escritos e gravados. Porém, na noite de sua estreia, em 27 de agosto de 1975, Cid Moreira informou no "Jornal Nacional" que "Roque Santeiro" não ia entrar em seguida porque havia sido censurada pelo Regime Militar (vigente na época). Imediatamente a Globo preencheu o horário com uma reprise compacta de "Selva de Pedra" para, com tempo hábil, produzir uma novela substituta para "Roque", aproveitando – dentro do possível – praticamente a mesma equipe de técnicos, atores e cenários.

revista_contigoJanete Clair foi então convocada para apagar esse incêndio. A novelista viu nessa oportunidade sua grande chance de mostrar à emissora que poderia se reciclar. "Roque Santeiro" ficou engavetada por dez anos e, apenas em 1985, com o fim da Ditadura, ela pôde estrear, com nova produção e elenco, tornando-se um dos maiores sucessos da TV. Janete deixou "Bravo!" nas mãos de seu pupilo Gilberto, que a finalizou, enquanto foi trabalhar em "Pecado Capital". E acabou por escrever sua melhor novela!

Com um pé na realidade, mas sem abandonar o romantismo tão característico de sua obra, Janete Clair escreveu um drama urbano dos melhores, subvertendo receitas folhetinescas. Não existia herói, mocinha ou vilão em "Pecado Capital". O casal romântico central era afastado pela ambição da "mocinha" (Lucinha de Betty Faria), que desejava ascender socialmente, e pela dubiedade de caráter do "herói" (Carlão de Francisco Cuoco), clara desde o início, quando ele decide esconder uma mala de dinheiro que não lhe pertencia (fruto de um assalto, esquecida no banco de trás de seu táxi).

Janete recebia a bem-vinda colaboração do diretor Daniel Filho na condução de sua história. Foi ele quem sugeriu que Carlão morresse no final, já que a autora estava optando por um final romântico que juntaria ele a Lucinha. O "vilão" de "Pecado Capital" estava representado em seus próprios "heróis". A autora subvertia assim o maniqueísmo tão condenado em sua obra. Com "Pecado Capital", Janete Clair retomava o horário das oito, com o qual ficou conhecida como "Maga das Oito".

"Pecado Capital" foi exibida originalmente entre 24 de novembro de 1975 e 5 de junho de 1976, em 167 capítulos. Com Francisco Cuoco, Betty Faria, Lima Duarte, Rosamaria Murtinho, Dennis Carvalho, Débora Duarte, Theresa Amayo, Luiz Armando Queiroz, Marco Nanini, Lauro Góes, João Carlos Barroso, Gilberto Martinho, Lutero Luiz, Elizângela, Ilva Niño, Germano Filho, Leina Krespi, Lady Francisco, Elza Gomes, Emiliano Queiroz, Maria Pompeo, Milton Gonçalves, Dary Reis, Sandra Barsotti, Moacyr Deriquém, Fábio Mássimo, Zanoni Ferrite, e outros. Box com 10 DVD´s em 30 horas de programa. Preço médio: 160 reais.

Foto: Divulgação/Globo Marcas

Foto: Divulgação/Globo Marcas

Outras boas opções em Teledramaturgia lançadas recentemente pela Globo Marcas:

– DVD "TV Pirata Novelas", que reúne novelinhas apresentadas dentro do programa, entre 1988 e 1991, como "Fogo no Rabo", "Rala Rala", "Prisão de Ventre" e "Sabrina, os diamantes não são para comer". Direção de Guel Arraes, roteiro final de Cláudio Paiva, com Luiz Fernando Guimarães, Regina Casé, Diogo Vilela, Débora Bloch, Guilherme Karan, Claudia Raia, Ney Latorraca, Cristina Pereira, Marco Nanini, Louise Cardoso, Pedro Paulo Rangel e outros. Box com 2 DVD´s. Preço médio: 40 reais.

– DVD da minissérie "Amores Roubados", sucesso exibido em janeiro deste ano, roteiro de George Moura, baseado "A Emparedada da Rua Nova", de Carneiro Vilela, direção geral de José Luiz Villamarim, fotografia de Walter Carvalho – a mesma equipe que estreia nessa segunda (14/07) a novela "O Rebu". No elenco de "Amores Roubados", Cauã Reymond, Ísis Valverde, Murilo Benício, Patrícia Pilar, Dira Paes, Osmar Prado, Cássia Kis Magro, Irandhir Santos, Jesuíta Barbosa e outros. Box com 3 DVD´s. Preço médio: 75 reais.

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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