Balanço: 2014 foi um ano de amadurecimento para as séries da TV aberta
Apesar da qualidade de produção de algumas novelas de 2014 ("Meu Pedacinho de Chão", "O Rebu"), as suas audiências, de um modo geral, não foram significativas – nada além do que se podia prever para um ano de Copa do Mundo e campanha eleitoral. Em contrapartida, se nos voltarmos para as produções seriadas da TV aberta, houve um avanço significativo no ano que passou. Três delas, de qualidade inquestionável, se destacaram. E a audiência acompanhou a qualidade, em pelo menos duas delas.
Produção de tirar o fôlego, "Amores Roubados" – minissérie de dez capítulos, exibida em janeiro, com roteiro final assinado por George Moura e direção geral de José Luiz Villamarim – conquistou os telespectadores, cativando uma audiência que surpreendeu a própria Globo. Aqui, a emissora repetiu o trio que apresentara "O Canto da Sereia" em 2013: além de Moura no roteiro e Villamarim na direção, o fotógrafo Walter Carvalho. Essa equipe retornou em 2014 (mais Sergio Goldenberg no roteiro) com a novela "O Rebu".
Outro sucesso de público (e de crítica) foi a excelente "Dupla Identidade", assinada por Glória Perez com direção geral de Mauro Mendonça Filho. Tendo como referência séries policiais estrangeiras, este trabalho em nada lembra a desastrada "Salve Jorge", última novela de Glória. Com um trabalho primoroso de pesquisa, texto, direção e a ótima atuação de Bruno Gagliasso e Débora Falabella, a autora exibiu um maduro panorama da realidade brasileira (dentro dos limites impostos pelos clichês do gênero, claro) no que se refere à investigação de crimes cometidos por serial killers. Tão representativa dentro da produção nacional que não seria exagero se, no futuro, a considerássemos um divisor de águas para o formato.
Enquanto "Amores Roubados" e "Dupla Identidade" conquistaram o público, dentro do que se espera da promoção de uma emissora como a Globo, a Record fez o que pode para divulgar sua ótima "Plano Alto", minissérie de Marcílio Moraes, com direção geral de Ivan Zettel. A repercussão foi pouca, mas esta produção mostra que a emissora de Edir Macedo ainda preza por trabalhos que lhe deem prestígio a despeito da audiência. O autor aqui, em pleno ano eleitoral, traçou um panorama político brasileiro muito interessante. Só acho que deveria ter sido exibida antes do início da campanha eleitoral, e não às vésperas do segundo turno. A Record segue com outras produções de dramaturgia, além de uma novela. Em 2014, foram ao ar ainda a bíblica "Milagres de Jesus" e, agora no fim do ano, "Conselho Tutelar".
A Globo segue com suas séries cômicas, de apelo popular ou não, mas se renovando. A prova disso foi a extinção de "A Grande Família", a mais longeva da história da emissora, com um último episódio inesquecível. "Tapas e Beijos" parece ser a herdeira natural, se considerarmos que já está no ar há algum tempo e o público alvo é o mesmo de "A Grande Família". 2014 também teve a ótima "Doce de Mãe", estrelada por Fernanda Montenegro. Gostosa, como o título sugere. Podia ter mais temporadas. E "Segunda Dama", estrelada por Heloísa Périssé. Não precisa de segunda temporada.
Miguel Falabella apresentou a terceira temporada da ótima "Pé na Cova", para quem aprecia o humor típico do autor, com uma dose de filosofia, lirismo e melancolia. Falabella ainda exibiu a controversa "Sexo e as Negas", que causou tanto barulho antes da estreia (segmentos que representam as mulheres negras não gostaram da premissa da série) que só lhe serviu de promoção. Muito barulho por nada: ao final, como era de esperar, a atração em nada feriu o orgulho da mulher afrodescendente.
Se "Dupla Identidade" pode representar um "divisor de águas" para as séries policiais de suspense nacionais, pode-se afirmar que "A Teia" e "O Caçador" – exibidas antes, entre janeiro e julho – serviram como um bom ensaio para o que estava por vir. Assim, concluímos que 2014 foi um ano de amadurecimento para a produção nacional seriada. Pelo menos no que tange a TV aberta (a TV a cabo está em outro cenário, tem outras premissas e parâmetros). Mesmo longe de alcançar o modelo americano, tanto em produção quanto em repercussão, a experiência adquirida em 2014 não foi pouca.
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