Conheça “Quem Ama Não Mata”, minissérie que originou “Felizes Para Sempre?"
Nilson Xavier
30/01/2015 07h30
Para escrever "Felizes Para Sempre?", o autor, Euclydes Marinho, inspirou-se em outra minissérie sua, "Quem Ama Não Mata", de 1982. A nova só não é um remake da antiga porque as semelhanças param na presença dos cinco casais da história. Os personagens e dramas conjugais são outros, assim como a abordagem da atual, naturalmente mais moderna e condizente com a sociedade de hoje.
"Quem Ama Não Mata" foi exibida em 20 capítulos, entre julho e agosto de 1982. Foi a terceira "minissérie" da Globo, um projeto que havia se iniciado naquele ano – foi antecedida por "Lampião e Maria Bonita" e "Avenida Paulista".
Concebida em conjunto pelo autor e o diretor Daniel Filho, a proposta era mostrar vários níveis de relacionamentos conjugais a partir de cinco casais diferentes, de uma mesma família, aparentemente felizes. Euclydes e Daniel usaram referências autobiográficas. Como o casal Chico (Daniel Dantas) e Júlia (Denise Dumont), que se separa porque ela quer conhecer outros homens, enquanto ele não tem estrutura emocional para lidar com a situação. Isso aconteceu com Euclydes, em um casamento seu com uma atriz.
Os casais
Enquanto Jorge (Claudio Marzo) e Alice (Marília Pêra) não tinham diálogo (a rotina e os sentimentos não expressados verbalmente vão minando a relação), o casal jovem Chico (Daniel Dantas) e Júlia (Denise Dumont) – ela, sobrinha de Alice – tinha uma relação baseada no diálogo e na sinceridade, tanto que, apesar de se amarem, eles se separam por um tempo para que Júlia possa se relacionar com outros parceiros. Já Laura (Susana Vieira) – mãe de Júlia, irmã de Alice – estava em crise em seu terceiro casamento pois primava pela independência, queria uma relação sem união formal e morando longe do marido, Raul (Paulo Villaça), que achava que só o casamento tradicional poderia mantê-los juntos.
Fonseca (Hugo Carvana) e Odete (Tânia Scher) – vizinhos e melhores amigos de Jorge e Alice – viviam entre tapas e beijos, com muitas discussões, porque ele era ciumento e ela, muito despachada. Mas, no fundo, não conseguiam ficar longe um do outro. E, finalmente, o casal de terceira idade, o militar reformado General Flores (Dionísio Azevedo) e Dona Carmem (Norma Geraldy) – pais de Alice e Laura, avós de Júlia – viviam um casamento de mais de quarenta anos, no modelo antigo.
No primeiro capítulo, ocorre uma discussão entre Jorge e Alice, seguida de um tiro. Fica claro ao telespectador que um dos dois morreu, mas o mistério permanece até o último capítulo, enquanto a trama se desenrola mostrando os antecedentes do crime. Dois finais foram gravados: um com Jorge matando Alice, e outro com Alice matando Jorge. Somente na noite em que foi ao ar o último capítulo, é que Daniel Filho decidiu qual dos dois desfechos apresentar. O escolhido foi aquele em que Jorge assassina Alice. O outro final foi exibido no domingo seguinte, depois do "Fantástico".
Os casais de "Felizes Para Sempre?" vivem em Brasília, o que leva a uma abordagem política. "Quem Ama Não Mata" se passava no Rio de Janeiro e limitava-se aos dramas familiares. "Felizes Para Sempre?" tem muitas cenas de sexo e aborda a homossexualidade e a prostituição, tabus em 1982, portanto não tratados em "Quem Ama Não Mata". Logo, a personagem de Paolla Oliveira, a prostituta Danny Bond, que tem uma relação com Daniela (Martha Nowill), não existia na produção dos anos 80.
Mas, Euclydes Marinho homenageia sua antiga minissérie na nova: os nomes de vários personagens de "Felizes Para Sempre?" são nomes dos atores que viveram os tipos correspondentes em "Quem Ama Não Mata". Veja o álbum.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.