“Babilônia” precisa emocionar o público
Nilson Xavier
14/04/2015 13h01
Já estão no ar as mudanças pelas quais passa a novela "Babilônia" na tentativa desenfreada de fazer sua audiência reagir ante números tão abaixo do esperado. Sim, aqui vale a máxima "pior audiência no horário das 9 de todos os tempos" – ainda que "de todos os tempos" não queira dizer absolutamente nada, porque esse tipo de comparação não cabe quando se considera novelas de mais de quinze anos. Mas, pelo menos, "dos últimos tempos", sim.
Não é a primeira vez que intervenções são necessárias em uma obra de Gilberto Braga que está começando ("Babilônia" é escrita com a parceria de Ricardo Linhares e João Ximenes Braga). Já em 1981, o público torceu o nariz para a pretensiosa "Brilhante". Em 1991, "O Dono do Mundo" esteve nos holofotes, negativamente. "Paraíso Tropical" (2007) e "Insensato Coração" (2011), mais recentes, também sofreram rejeição inicial.
Se a "Babilônia" mais palatável vai conquistar audiência, é cedo para saber. Talvez leve um tempo ainda. Mas as cenas de romance já foram intensificadas. As maldades diminuídas. E até uma vingança de Inês (Adriana Esteves) contra Beatriz (Glória Pires) foi adiantada. Pesquisas recentes constataram que, atualmente, o público não quer ver realidade e violência na novela das nove. E que os bons e batalhadores são os queridinhos, em detrimento aos vilões. Cai por terra, portanto, a teoria que reza que o público gosta mesmo é das vilãs. Adeus Carminhas, Nazarés, Bias Falcão e Odetes Roitman.
Semana passada fui questionado o porquê do público gostar tanto de uma novela como "O Rei do Gado" (de 1996), que faz sucesso à tarde, em sua segunda reprise no "Vale a pena Ver de Novo", e não gostar de "Babilônia". Incluiria aí também a atual novela das sete da Globo, "Alto Astral", em sua reta final, com repercussão superior às suas antecessoras no horário.
São três novelas bem diferentes, em situações diferentes. "O Rei do Gado" é um novelão clássico, com o texto sempre emotivo de Benedito Ruy Barbosa e direção primorosa de Luiz Fernando Carvalho. O texto, continua atualíssimo. Aborda identidades desconhecidas, amor entre classes sociais diferentes, traições, mas também a corrupção política e reforma agrária.
"Alto Astral", do estreante Daniel Ortiz, é tão somente uma novela das mais despretensiosas que já vi. Repleta de clichês do folhetim (vilões maniqueístas, mistérios, amores impossíveis, sobrenatural), e com o humor nonsense que andava afastado do horário. Uma boa novela para relaxar.
"Babilônia" começou forte. Lembrou "Torre de Babel" (1998), de Silvio de Abreu, que também afugentou o público no início. Tem a corrupção política presente em "O Rei do Gado". Tem alguns clichês do folhetim, como toda novela. Mas falta emoção. Falta o público se identificar com algum drama para ter pelo que torcer. Ou rir, ou se emocionar, ou sofrer. Falta um tanto de humanidade a "Babilônia".
Os telejornais já aprenderam essa lição faz tempo: a notícia ruim deve vir intercalada com notícias suaves, ou que apelem para o emotivo do público. A novela pode emular a realidade. Mas nunca destacá-la mais do que a emoção, sua essência.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.