A TV precisa de mais bons roteiros e sutileza como em "Sete Vidas"
Nilson Xavier
10/07/2015 19h19
"Podemos conversar?"
Essa foi a frase mais ouvida em "Sete Vidas", a novela das seis da Globo que terminou nesta sexta-feira, 10/07. A trama repleta de DRs (discussões de relação) primou por um texto de altíssima qualidade, profundo e sutil, o grande diferencial da autora, Lícia Manzo, ao retratar relações humanas com muita sensibilidade. Talvez daí se explique a legião de fãs ante personagens e dramas de fácil identificação e simbiose.
Idealizada para ser curta – teve apenas 106 capítulos, quatro meses no ar –, se justifica a sensação de "quero mais" de seu público. Mas, convenhamos, a história do encontro das sete vidas concebidas artificialmente a partir de um mesmo pai biológico rendeu tudo o que tinha para render. Já nas últimas semanas, percebeu-se uma certa enrolação, que só não incomodou por conta de sua galeria de personagens cativantes.
Produção caprichada e uma das melhores trilhas sonoras do últimos tempos. E o que seria do ótimo texto se não fosse um elenco e uma direção de atores à altura? E "Sete Vidas" preencheu os requisitos. Direção geral de Jayme Monjardim e atores bem escalados. Débora Bloch em uma de suas melhores interpretações na televisão. Gisele Fróes e Maria Eduarda Carvalho repetindo tipos que defenderam muito bem na novela anterior da autora, "A Vida da Gente" (2011-2012). Também um grande destaque para Cláudia Mello, Cyria Coentro, Malu Galli e o novato Michel Noher (o argentino Felipe).
Ao mesmo tempo, alguns bons atores que poderiam render bastante, não passaram de figuração de luxo: Selma Egrei, que era a mãe das personagens de Débora Bloch e Malu Galli, simplesmente sumiu da trama. Também os pais de Felipe, vividos por Jean-Pierre Noher e Lígia Cortez.
Aqui cabe apenas uma crítica à autora, algo já percebido em "A Vida da Gente". Seus dramas são universais e acometem todos os gêneros, mas percebe-se um maior afinco de Lícia ao retratar personagens femininas em detrimento aos masculinos, em sua maioria reconhecidos como fracos, emocionalmente imaturos e/ou dependentes, ou mesmo "bananas".
Entende-se que a audiência da novela das seis é – em teoria – predominantemente feminina. Mas já que o estilo da autora é naturalista, uma melhor dosagem caberia bem, sem desmerecer nenhum gênero. Ainda mais porque Lícia Manzo tem um texto digno de um horário mais nobre, em que o público é bem mais amplo do que apenas as telespectadoras do horário das seis. Nossa televisão carece de roteiristas assim. #LiciaParaAs9 #ficaadica
Leia também: Maurício Stycer – Sete motivos por que vamos sentir saudades de "Sete Vidas".
Audiência: "Sete Vidas" foi bem de audiência, fechou com uma média final de 19,4 pontos no Ibope da Grande São Paulo, elevando em dois pontos a média do horário das seis, quando comparada com as novelas anteriores – "Boogie Oogie" 17,4; "Meu Pedacinho de Chão" 17,78; "Joia Rara" 18,4. Fonte: Fábio Dias, blog "O Cabide Fala".
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.