Com ótima trama folhetinesca, “Além do Tempo” entra em nova fase em um mês
Nilson Xavier
23/09/2015 11h33
Definitivamente, é preciso elogiar "Além do Tempo", a novela das seis da Globo. A autora Elizabeth Jhin reúne neste trabalho todos os ingredientes que fazem a festa dos fãs do folhetim clássico, a base de toda novela. Esqueça o naturalismo que fez a história da Teledramaturgia da Globo – e que a diferencia e distancia das telenovelas do demais países da América Latina.
Para ambientar sua trama, Jhin bebe do romantismo do século XIX. "Além do Tempo" parece mesmo uma história seriada narrada em rodapé de jornal daquela época – os folhetins. O contraste entre a aristocracia e a mão de obra rural lembra, de leve, a série inglesa "Downton Abbey" (guardadas as devidas proporções de época e lugar). Mas a referência termina no requinte da produção e excelentes direção e elenco.
A história é entregue ao público mastigadinha e, como toda boa novela, dosa vários ingredientes folhetinescos que geram identificação no púbico (preconceito e conflitos entre classes, por exemplo) e aguçam sua curiosidade (mistérios, segredos que vêm à tona, intrigas). E não faltam bons ganchos ao final de cada capítulo, que garantem a audiência cativa. A carpintaria da telenovela está perfeita. Aqui, apenas uma crítica ao miolo dos capítulos, em que a ação segue mais arrastada. "Além do Tempo" teve sua nova fase protelada – começará em um mês – e é notória uma certa embromação no seguimento da trama principal.
O público, testemunha dos acontecimentos, torce com o desenredar da história em meio a personagens maniqueístas, vilões bem delineados, uma mocinha virtuosa (ex-freira, inclusive), um belo mocinho-galã, alpinistas sociais, segredos do passado envolvendo ódio entre famílias, amores não correspondidos, intrigas de uma vilã interesseira, o pobre trabalhador, o rico arrogante, a vilã redimida, a donzela violada, o desmemoriado, preconceito de classe e de raça, e – a cereja do bolo – um toque de sobrenatural.
Há também de se chamar atenção para o alívio cômico da trama: o núcleo da família de Mássimo Pasqualino (Luís Mello): sua mulher Salomé (Inês Peixoto) e as filhas Bianca (Flora Diegues) e a pequena Felícia (Mel Maia). Um exemplo quase raro de núcleo de humor em uma trama melodramática que traz leveza e induz o riso. Uma graça de núcleo, na verdade!
"Além do Tempo" remete às produções de época para o horário das seis da Globo na década de 1970, aquelas baseadas em obras da literatura brasileira clássica. É, por excelência, um folhetim bem contado numa embalagem de primeira. Aguardemos a passagem de tempo – em que a trama será ambientada nos dias atuais com as reencarnações dos personagens. A nova fase da novela começa em um mês, no capítulo 86, em 20 de outubro.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.