Topo

“A Regra do Jogo” exige do público mais do que mera passividade

Nilson Xavier

18/10/2015 18h00

A morte de Djanira (Cássia Kis) (Foto: Reprodução)

A morte de Djanira (Cássia Kis) (Foto: Reprodução)

Entre as qualidades da novela estão a trama dinâmica e excelentes elenco e direção.

Cássia Kis deixa a novela "A Regra do Jogo" merecendo todos os aplausos. A personagem Djanira já figura entre os seus melhores trabalhos em televisão. O autor da novela, João Emanuel Carneiro, a construiu de tal forma que o público desenvolvesse uma grande empatia com o seu drama, de mulher sofrida, de intensa relação com os filhos, traída pelo homem que amava. Só que, assim como os demais personagens da novela, Djanira tinha muito a esconder e a sua morte deixa dúvidas e lacunas.

Nesta semana, "A Regra do Jogo" entra em uma nova fase. Djanira sai de cena e desencadeia a separação dos mocinhos Tóia e Juliano (Vanessa Giácomo e Cauã Reymond). Tóia descobriu que Zé Maria (Tony Ramos) matou o seu pai na chacina de Seropédica e agora acha que Juliano faz parte da facção criminosa (como Zé) e o acusa de aliciar menores para o tráfico. Com isso, ela se torna a mais nova aliada de Romero Rômulo (Alexandre Nero).

"A Regra do Jogo" tem revelado uma trama policial de tirar o fôlego. É, por excelência, uma novela de João Emanuel Carneiro: tem a marca do autor, com todas as características já vistas em "A Favorita" e "Avenida Brasil". Entre elas, o fato de a história de amor ser menos importante, estar relegada a segundo plano. No caso de "A Regra do Jogo", o que vale é a história policial.

As tramas paralelas, calcadas no humor, não têm conexão alguma com a central e são menos interessantes (como em "A Favorita" e "Avenida Brasil"). Pode-se afirmar que, extraindo as tramas paralelas, o que sobra nem novela é, mas um seriado, e da melhor qualidade. Já as paralelas, quando aparecem, chegam a ser um anti-clímax, de tão dissonantes. Dão a sensação de quebrar o bom andamento da atração.

Alexandre Nero, Vanessa Giácomo, Cauã Reymond e Tony Ramos (Foto: Reprodução)

Alexandre Nero, Vanessa Giácomo, Cauã Reymond e Tony Ramos (Foto: Reprodução)

A história de João Emanuel Carneiro exige do telespectador muito mais do que a mera passividade. Seu ritmo ágil demanda atenção redobrada: perdeu um capítulo, perdeu muito. Por enquanto, não existe enrolação. Como o xadrez da abertura, JEC sugere que o público acompanhe atentamente o desenrolar do jogo, os movimentos dos personagens no tabuleiro proposto pela história. Entretanto, com um grau maior de dificuldade: as peças não são claras ou escuras, elas podem mudar de cor no decorrer da partida. Ou seja: não existe bandido ou mocinho, todos são dúbios, merecem alguma desconfiança, e podem trocar de lado em algum momento.

Romero Rômulo já é o protagonista mais ambíguo da história de nossas telenovelas. Alexandre Nero, excelente no papel, em nada lembra o Comendador de "Império", seu trabalho mais recente. As cenas com Cássia Kis, que mostravam os embates entre mãe e filho, eram fortes, densas, emocionantes. A própria Djanira foi se revelando uma personagem que tinha muito a esconder. Seu lado escuro pode ficar mais evidente com a resolução das questões ainda pendentes envolvendo o seu passado e o de Zé Maria, Tóia, Juliano e Romero.

Além da história central, outras grandes qualidades de "A Regra do Jogo" são o elenco e a direção, que propiciam ao público cenas com interpretações magistrais. Vale aqui nomear toda a equipe de Amora Mautner que desenvolve esse trabalho primoroso com os atores: Joana Jabace, Paulo Silvestrini, Marcelo Travesso, Henrique Sauer, Enrique Diaz e Guto Arruda Botelho.

Siga no TwitterFacebookInstagram 

Leia também: Cássia Kis chora em despedida de "A Regra do Jogo" e é aplaudida pelo elenco.
Maurício Stycer: Cinco erros ou histórias mal explicadas em "A Regra do Jogo".

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

Blog do Nilson Xavier