Divertido, núcleo caipira de "Êta Mundo Bom!" é o grande destaque da novela
A boa repercussão de "Êta Mundo Bom!", nessas suas três primeiras semanas de exibição, tem provado que o público estava ansioso por uma história interiorana e folhetinesca. Walcyr Carrasco reúne nesta novela tudo o que marcou suas tramas do horário das seis na década passada. Mais especificamente, falo de "O Cravo e a Rosa" (2000-2001), "Chocolate com Pimenta" (2003-2004) e "Alma Gêmea" (2005-2006).
No elenco, alguns nomes já se destacam. Poucos ainda, a bem da verdade. O tom teatral do texto – que cabe na proposta da novela – exige um pouco mais do ator. Entre os que se sobressaem, Sérgio Guizé foi a escolha acertada para o protagonista. Candinho é tão original que o personagem parece feito para o ator. Eliane Giardini e Marco Nanini, experientes como são, também aproveitam a força de seus personagens e conseguem ir além do que pede o texto do autor.
Mas este post é para elogiar o que já considero, de longe, o melhor núcleo de "Êta Mundo Bom!" – do qual nem Guizé, Giardini ou Nanini fazem parte. Quem conhece as novelas de Carrasco, sabe de sua predileção por caipiras, com fazenda, bichinhos de estimação, chiqueiro e humor pastelão. Teve nas três novelas que citei acima mais "Morde e Assopra" (2011), trama contemporânea do horário das sete. O núcleo caipira de "Êta Mundo Bom!" é, até o momento, o que mais tem divertido o telespectador. Nele, Carrasco deita e rola em situações que dispensam sutileza. Sutileza para quê, quando se arremessa o povo no chiqueiro?
Elizabeth Savalla – figurinha fácil nas novelas do autor – exercita diariamente seu talento e garganta com o texto afiado de Carrasco e o sotaque carregado de Cunegundes, sua personagem. A atriz nos brinda com sua força interpretativa em situações hilárias que envolvem os demais membros dessa família Buscapé. Também com personagens à altura de seus talentos Ary Fontoura – Quinzinho, o marido submisso – e Rosi Campos – Eponina, a cunhada solitária e encalhada. Completam o quadro familiar, os filhos Quincas e Mafalda, vividos pelos jovens Miguel Rômulo e Camila Queiroz., e as empregadas Manoela e Dita, interpretadas por Dhu Moraes e Jennifer Nascimento.
Camila Queiroz já havia sinalizado seu potencial com a Angel de "Verdades Secretas". E agora surpreende numa personagem completamente diferente e que lhe exige bastante. É uma grata surpresa confirmar o que já se suspeitava. A moça está ótima como a inocente caipirinha, ora romântica e ingênua, ora engraçada e com boas tiradas. Também tem Anderson Di Rizzi, como o funcionário Zé dos Porcos, e Flávio Migliaccio, como o vizinho Josias. É um elenco tão afinado e coeso que chega a destoar dos demais núcleos da novela, em que as histórias ainda engatinham e a maioria dos personagens não se mostrou totalmente ou não disse a que veio.
Ainda que o clã caipira de "Êta Mundo Bom!" tenha tido importância para a trama central da novela – foi na família que o protagonista Candinho se criou e ainda há a filha Filó (Débora Nascimento) que partiu para a cidade grande -, a história se distancia da trama principal. O núcleo dos caipiras é inspirado no conto "O Comprador de Fazendas", de Monteiro Lobato: uma família quer se livrar da fazenda decadente e faz um acordo com seus devedores para 'maquiá-la' a fim de vendê-la com mais facilidade, até que um suposto comprador – na verdade um malandro – se aproveita da situação para viver bem como hóspede, enquanto se decide.
A família Buscapé já fez sucesso como série na TV americana e até em desenho animado. É sempre um apelo cômico irresistível e que rende muito. Na novela de Walcyr Carrasco, texto, direção e elenco aproveitam – acertadamente – ao máximo esse potencial. Eta núcleo bom!
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