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Estreia de "Velho Chico" impressionou pela beleza estética e dramaticidade

Nilson Xavier

14/03/2016 23h06

Tarcísio Meira como o coronel Jacinto (Foto: Caiuá Franco/TV Globo)

Tarcísio Meira como o coronel Jacinto (Foto: Caiuá Franco/TV Globo)

Foi tudo lindo na estreia de "Velho Chico", a novela da Globo, nessa segunda (14/03). Luiz Fernando Carvalho na veia. Se não soubesse que era dele a direção artística, acertaria de pronto. As tomadas, a edição (que não necessariamente acompanha os diálogos), a beleza plástica, a luz, a interpretação visceral dos atores, a trilha. Tudo lembra a obra do diretor, de "Capitu" a "Afinal o que querem as mulheres?". O primeiro capítulo apresentou uma opereta carregada na dramaticidade. Uma dramaticidade pesada, forte. Às vezes sutil, quando interessou ao roteiro.

Difícil creditar a novela apenas a Benedito Ruy Barbosa (o criador da história) ou a Edmara e Bruno (filha e neto dele, os roteiristas). "Velho Chico" é a prova de que ali houve um grande esforço coletivo, cujo maestro principal é o diretor. O que só funciona quando o diretor traduz em imagens o roteiro do autor de forma única e original. E tem a total liberdade para isso.

Não, o capítulo não foi lento, como apregoam os avessos à obra de Benedito Ruy Barbosa. Em meio à contemplação estética-musical houve ação, tensão e emoção. Ficamos sabendo que o Coronel e o Capitão se odeiam e têm interesses díspares. Que um filho do coronel morreu nas águas do São Francisco. Que o outro filho esbanja dinheiro na capital com a namorada-amante. Que a família de retirantes precisa fugir da seca para não morrer. E que, por fim, o coronel morreu e o amor do filho está ameaçado por essa morte. Bastante prum primeiro capítulo.

O diferencial está na realização. Tudo degustado ao sabor do visual deslumbrante da fotografia e da trilha sonora que trabalham eficazmente a favor do melodrama. Impressiona também a atuação do elenco, em caracterizações carregadas: Tarcísio Meira e Selma Egrei, Carol Castro e Rodrigo Santoro, Rodrigo Lombardi e Fabíula Nascimento, Chico Diaz e Cyria Coentro (que sequências lindas na seca, remeteu ao especial "Morte e Vida Severina", de 1982).

Tudo muito bonito, de encher os olhos. Resta saber se a história da novela despertará no público as paixões, que a produção se propõe, pelos próximos seis meses. Pirotecnia visual também cansa quando muito carregada. Essa beleza toda, por si só, não sustenta uma novela por tanto tempo. A história (da novela) nos revelará.

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Chico Diaz e Cyria Coentro (Foto: Reprodução)

Chico Diaz e Cyria Coentro (Foto: Reprodução)

Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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