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Trama de “A Lei do Amor” ficou mais compreensível, mas perdeu sutileza

Nilson Xavier

07/12/2016 07h00

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Vera Holtz e Tarcísio Meira (Foto: divulgação/TV Globo)

"A Lei do Amor" já não é mais a mesma novela de um mês atrás. As modificações para impactar a audiência (que andava baixa) já estão no ar e são sentidas. Afetou a trama e o ritmo da novela. O que foi bom, por um lado. "A Lei do Amor" está mais, digamos, digerível. Contudo, o texto perdeu uma grande qualidade: a sutileza. Entre deixar nas entrelinhas e escancarar, o Ibope forçou a segunda opção. Fazer concessões em nome da audiência faz parte do jogo.

A novela tem uma trama bem amarrada, que envolve a maioria dos núcleos. O atentado contra Fausto Leitão (Tarcísio Meira) e, depois, contra Isabela e Zelito (Alice Wegman e Danilo Ferreira), as falcatruas políticas do senador Venturini (Otávio Augusto), a guerra particular de Tião Bezerra (José Mayer) contra Helô (Cláudia Abreu) e/ou a família Leitão – está tudo conectado, inclusive com outras tramas. Ficam de fora apenas as historinhas paralelas de humor, que funcionam – e muito bem – como alivio cômico.

Diminuir a participação de vários personagens foi providencial. Bem como focar em poucas tramas paralelas, para fazer a história central fluir melhor – tornando-a assim mais compreensível. As cenas clipadas, curtas, e o ritmo alucinante podem ser interessantes. Mas não funcionam numa trama cheia de detalhes que exige muita atenção do público, ainda mais com um elenco gigantesco. Confunde e afasta o espectador acostumado a novelas mastigadinhas.

Em contrapartida, enxugar a história e deixar claro do que se trata (mastigar) faz com que "A Lei do Amor" fique menos sutil. Tião Bezerra (José Mayer), que poderia ser um vilão dúbio – o que lhe conferiria um certo charme –, acabou se transformando num vilão escancarado, cruel e atroz. O próprio diabo personificado! Aqui, mastigar a trama não chega a ser um problema, apenas uma mudança de abordagem.

Cláudia Abreu e Reynaldo Gianecchini (Foto: divulgação/TV Globo)

Cláudia Abreu e Reynaldo Gianecchini (Foto: divulgação/TV Globo)

Entretanto, a novela segue com seu principal casal, Helô e Pedro (Cláudia Abreu e Reynaldo Gianecchini), numa relação amorosa basicamente sem conflito, ancorada na trama policial, de mistério. Tião Bezerra até tenta separá-los, mas isso será consequência de um plano maior seu. Pedro e Helô se amam e está tudo certo. Ficar juntos é uma questão de tempo. Não é um casal para o público torcer – este sim um problema maior que uma trama mastigada e pouco sutil.

O único par romântico que merecia uma torcida da audiência – Tiago e Isabela (Humberto Carrão e Alice Wegman) – acabou separado com a (suposta) morte dela. Nesse momento, ganha espaço o romance entre a instável Vitória e Augusto (Camila Morgado e Ricardo Tozzi), afetado com a chegada de Beth (Regiane Alves), a ex dele. Pronto, agora temos um ótimo conflito folhetinesco! Com isso, os autores eliminam outro problema da novela: a própria Vitória, que, de chata, ganha tintas mais interessantes.

"A Lei do Amor" está bem melhor. Acho que agora vai!

Leia também, Maurício Stycer: "A Lei do Amor muda às pressas para tentar manter média semanal".

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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