“Rock Story” subverte a fórmula dos romances juvenis das novelas anteriores
Se a Globo achava que havia encontrado alguma fórmula mágica para as novelas do horário das sete, talvez tenha se enganado. Após o sucesso dos dois últimos títulos, "Totalmente Demais" e "Haja Coração", a faixa parecia ter descoberto a receita infalível para atingir o público: o apelo do romance juvenil, muito próximo da fórmula da "Malhação", embasado em arquétipos e contos de fadas, com casaizinhos shippados nas redes sociais, disputados em #Shirlipes, #Jolizas e afins.
Eis que "Rock Story" veio para quebrar esse paradigma. A novela de Maria Helena Nascimento é a antítese das anteriores. O casal romântico jovem cede lugar a um protagonista quarentão, derrotado, o típico "loser", mas boa praça, que se envolve com uma moça desgrenhada, meio ingênua, acusada de tráfico de drogas. Aos olhos de Júlia (Nathalia Dill), Gui Santiago (Vladimir Brichta) pode até parecer um príncipe num cavalo branco. Mas não resta dúvida: ele é o perfeito anti-herói. No máximo, o sapo daquele conto de fadas.
Não há concessões juvenis em "Rock Story". O ídolo da garotada, Léo Régis (Rafael Vitti), é pintado como um tipo molecote, bobão e risível – e o ator faz muito bem esse papel. O amor juvenil meloso (enaltecido nas produções anteriores) aqui apenas soa ridículo. E parece piada, mas é fina ironia: o ídolo das adolescentes é apaixonado por uma "velha": Alinne Moraes! Um chiste espirituoso da autora.
O irresistível universo da música, tão caro a toda e qualquer geração, é pano de fundo para uma historinha bacana, com um elenco enxuto e entrosado, uma direção competente (parabéns Dennis Carvalho, Maria de Médicis e equipe!) e uma estética mais sóbria – quando comparada à paleta multicolorida da novela anterior, outro ótimo contraponto. E Vladimir Brichta radiante, num excelente momento – particularmente na relação de seu personagem com o filho Zac (Nicolas Prattes promete!).
"Rock Story" desconstrói o mito da rebeldia juvenil através de um quarentão rebelde. Rebeldia essa há tempos afastada das novelas globais. Claro que muito do peso dessa análise vem da identificação desse colunista quarentão com a figura de Gui Santhiago. Porém, justifico-me: o apelo simbiótico está não apenas no perfil do personagem, mas principalmente no texto da autora, que subverte e ironiza os romances juvenis melosos e maniqueístas. Mas não me iludo: tenho certeza que o destino de Gui e Júlia é o final feliz dos contos de fadas. Afinal, trata-se de uma novela.
Leia também: Maurício Stycer, "Rock Story foge da mesmica com comédia musical para teens e tiozões".
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