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"A Lei do Amor" enxuga elenco. No passado, novelas já usaram explosão e até terremoto

Nilson Xavier

06/01/2017 07h00

Foto: divulgação/TV Globo

Foto: divulgação/TV Globo

Meus amigos Marcia Pereira e Daniel Castro, do Notícias da TV, fizeram as contas: um terço do elenco original de "A Lei do Amor" já foi para os ares – leia AQUI. É quase outra novela, diferente de quando estreou – ainda que alguns personagens sejam os mesmos e as tramas centrais sejam mantidas. Também já a citei como uma "novela Frankenstein" – de remendada mesmo.

Morrer, viajar, ser preso, ou simplesmente sair de cena. É parte da tentativa de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, os autores, não só de enxugar a história, mas também de deixá-la palatável ao público, já que a audiência da novela anda abaixo das expectativas da emissora.

torredebabel_divulgacaoNovela é obra aberta, vai sendo escrita dependendo da recepção da audiência. O público é soberano. Porém, cabe aos autores ceder à pressão ou não. Silvio de Abreu não aceitou mudar a trama de "As Filhas da Mãe" (2001) e a novela é hoje lembrada pela história ousada e pela pouca repercussão. Em "Torre de Babel" (1998), sua obra anterior, a situação foi bem diferente – principalmente porque se tratava de uma novela das oito, de maior faturamento para a emissora.

Perguntado se a audiência interfere no processo criativo do autor, Silvio respondeu ao TV Folha (em janeiro de 2002):
"Interfere, porque a gente tem que atingir aquele patamar. Sei que é minha obrigação. Mas, às vezes, a novela não dá grande audiência na estreia – como 'Torre de Babel', que assustou o público no começo. Aí, eu deixei de lado a análise psicológica, traí minha ideia original, contei a história em tom folhetinesco, e o povo embarcou na emoção. Mas aquilo me desagradou."

Com a explosão do shopping center de "Torre de Babel", morreram alguns personagens que o público havia rejeitado, como o toxicômano Guilherme (Marcello Antony), o casal de lésbicas Rafaela e Leila (Christiane Torloni e Sílvia Pfeifer, na foto) e o violento Agenor (Juca de Oliveira) – que sobreviveu e retornou no finalzinho.

Leila Diniz e Mario Brasini em

Leila Diniz e Mario Brasini em "Anastácia, a Mulher Sem Destino" (Foto: Acervo/TV Globo)

E se São Dimas fosse atingida por um terremoto?…

O mais marcante caso de enxugamento de elenco para ajustar a obra à audiência aconteceu há 50 anos. Em 1967, o ator Emiliano Queiroz vinha escrevendo a novela "Anastácia, a Mulher Sem Destino". Sem nenhuma técnica, ele começou a se perder na história à medida que a audiência ia caindo. Janete Clair foi então convocada para substituí-lo e dar um jeito na novela. Ela não teve dúvida e recomeçou tudo do zero: criou um terremoto que matou a maioria dos personagens. A trama teve então um salto de vinte anos na ação com apenas quatro personagens, os sobreviventes do ilustre terremoto.

"A Lei do Amor" ainda não chegou ao centésimo capítulo. Os autores podem virar esse jogo, estão empenhados nisso. Eu, particularmente, torci o nariz no início, por conta do excesso de personagens. Até montei o quebra-cabeça da novela (AQUI). Mas confesso que, mesmo depois das alterações, ela ainda não me cativou. Alguns personagens bons distraem. Mas a trama central não me faz esperar ansiosamente por ela, ou ao menos, correr para a frente da TV quando inicia o capítulo. Espero um terremoto para chacoalhar essa história. Em homenagem, os autores poderiam batizá-lo de Anastácia.

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Sobre o autor

Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.

Sobre o blog

Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.

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