Como Zana de “Dois Irmãos”, relembre outras mães passionais ou quase incestuosas das novelas
Nilson Xavier
13/01/2017 07h00
Zana, a mãe passional de "Dois Irmãos", vivida por Eliane Giardini e Juliana Paes, parece fazer questão de não esconder sua predileção pelo gêmeo caçula, Omar (Cauã Reymond/ Matheus Abreu/ Lorenzo Rocha). Até trata o outro, Yakub, com carinho, mas a sua paixão desmedida é Omar, numa relação que sugere, quase beira o incesto. Por isso mesmo, o marido Halim (Antônio Fagundes/Antônio Calloni) se sente protelado, deixado de lado, formando assim um triângulo amoroso familiar subententido.
Não foi a primeira vez que nossa dramaturgia abordou mães com muitas similaridades com Zana, seja pela predileção assumida por um dos filhos, ou no amor maternal ora cego e exacerbado ora quase incestuoso por um rebento.
Jocasta e Édipo (Vera Fischer e Felipe Camargo) em "Mandala" (1987-1988)
Sim, é o clássico grego de Sófocles levado à televisão, mais precisamente ao Rio de Janeiro do século 20. Jocasta foi separada do filho quando ele nasceu, pelo próprio pai do menino, Laio. Os anos passam e ela não desistiu de encontrar o filho. Sem saber que Édipo é o rapaz que está procurando, os dois acabam apaixonados. A novela teve vários problemas com a Censura Federal, que chegou a vetar a sinopse, alegando que ela tratava de temas impróprios. Só foi liberada depois que a Globo comprometeu-se a fazer modificações no original. Posteriormente a censura voltou a atuar, proibindo um beijo entre Jocasta e Édipo, considerando a cena agressiva ao público. Porém, como os personagens desconheciam sua condição de mãe e filho, o beijo foi finalmente liberado. No final, os dois personagens descobrem a relação filial, enquanto Vera Fischer e Felipe Camargo acabam juntos de verdade.
Isaura e Raquel (Laura Cardoso e Glória Pires) em "Mulheres de Areia" (1993)
Gabriela Duarte, Fabio Assunção, Susana Vieira e Claudia Mauro em "Por Amor" (Foto: divulgação/TV Globo)
Branca Letícia de Barros Mota e Marcelo (Susana Vieira e Fábio Assunção) em "Por Amor" (1997-1998)
Sabe porque a loura má preferia Marcelo aos outros filhos, Leonardo e Milena (Murilo Benício e Carolina Ferraz)? Porque ela achava que Marcelo era filho de seu grande amor, Atílio (Antônio Fagundes), e não de seu marido, Arnaldo (Carlos Eduardo Dolabella). Branca dava a Marcelo todos os mimos e carinhos possíveis, mas vivia às turras com Milena e visivelmente não gostava de Léo. Para seu desespero, ela descobre ao final que Léo, o filho negligenciado, é na verdade o filho de Atílio, e não Marcelo como imaginava. Golpe do destino hein, Branca!
Nathalia Timberg, Natalia do Valle e Gabriel Braga Nunes em "Insensato Coração" (Foto: divulgação/TV Globo)
Wanda e Léo (Natália do Valle e Gabriel Braga Nunes) em "Insensato Coração" (2011)
Wanda tinha dois filhos, Léo e Pedro (Eriberto Leão), mas era capaz de tudo por Léo, o irresponsável e com os dois pés no mau-caratismo. Léo sempre teve inveja do irmão, o preferido do pai Raul (Antônio Fagundes), e fazia tudo para prejudicá-lo. Ao final, Wanda foi capaz de um ato tresloucado para proteger o filho, mesmo sabendo que ele estava errado: ela matou Norma (Glória Pires), que tinha provas que incriminavam Léo de um assassinato.
Aracy Balabanian com Jandir Ferrari, Marcello Novaes e Gerson Brenner em "Rainha da Sucata" (Foto: divulgação/TV Globo)
Dona Armênia e "suas três filhinhas" (Aracy Balabanian, Marcello Novaes, Gerson Brenner e Jandir Ferrari) em "Rainha da Sucata" (1990)
Aqui não há sugestão de incesto, tampouco Dona Armênia tinha um preferido entre seus "filhinhas", Geraldo, Gerson e Gino. Mas o amor exagerado, passional, com ares operísticos e tom cômico da mãe armênia por seus rebentos roubou a cena na novela "Rainha da Sucata". Por excelência, a mater dolorosa. Tal qual Zana.
Além das citadas, existem outras, num grau maior ou menor que Zana – como Dona Néia (Ana Beatriz Nogueira), a mãe possessiva de Léo Régis (Rafael Vitti) na atual "Rock Story". Cite as que você lembra nos comentários abaixo! 😉
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.