Há 40 anos, concorrente da Globo reconheceu publicamente o sucesso da novela Locomotivas
Nilson Xavier
01/03/2017 07h00
Há 40 anos, a TV Tupi, então maior concorrente da Globo, reconhecendo os imbatíveis números de audiência da novela "Locomotivas", publicou uma nota em jornal convidando o telespectador a assistir primeiro a atração da Globo e depois trocar de canal: "A Rede Tupi mudou a novela 'Éramos Seis' para as sete e meia da noite. Assim você não perde as 'Locomotivas'!". Curiosamente, 17 anos depois, o SBT fez o mesmo durante o remake da novela "Éramos Seis" que ela exibia: chamou seu público para sintonizar em sua atração quando terminasse o capítulo da global "A Viagem".
A trama central era simples, mas extremamente folhetinesca: Milena (Aracy Balabanian) deu a filha para sua mãe criar e a menina cresceu achando que a verdadeira mãe era sua irmã. O problema maior aconteceu quando a filha já crescida, a rebelde Fernanda (Lucélia Santos), se apaixonou pelo namorado de Milena, Fábio (Walmor Chagas), e fez de tudo para melar a relação. Em nome da felicidade da filha, Milena abriu mão de seu amado. Claro que apenas no último capítulo Fernanda descobriu que ela era a sua mãe.
Lucélia Santos estrelava sua segunda novela. Ela havia acabado de sair de "Escrava Isaura" e foi escalada para viver uma patricinha rica e infeliz em "Locomotivas". Pediu para trocar de papel e ficou com a rebelde e espevitada Fernanda, e impressionou o público e a crítica com um tipo completamente diferente de seu trabalho anterior, a submissa Escrava Isaura. O outro papel ficou com a atriz Elizângela.
As tramas paralelas também agradaram o público. A problemática Patrícia (Elizângela), uma moça rica e infeliz, queria se livrar do julgo do pai tirano. A mãe possessiva Margarida (Mírian Pires) inviabilizava os namoros de seu filho submisso, Netinho (Denis Carvalho), por sentir ciúmes de todas as suas namoradas. E as intrigas da dissimulada Lurdinha (Teresinha Sodré), que fazia de tudo para acabar com o namoro da amiga Gracinha (Maria Cristina Nunes) com o português Machadinho (Tony Corrêa).
Também a presença de Eva Todor, que imortalizou a personagem Kiki Blanche, uma ex-vedete simpática e carismática, proprietária de um salão de beleza, mãe de Milena, que adotou outros quatros filhos: Fernanda (a filha de Milena) mais Renata (Thaís de Andrade), Paulo (João Carlos Barroso) e a pequena Regina (Gisele Rocha). Kiki Blanche marcou tanto a carreira da atriz que ela voltou a vivê-la 33 anos depois, em uma participação especial no remake da novela "Ti-ti-ti", que homenageava tramas e personagens de Cassiano Gabus Mendes.
Refletindo o sucesso da novela, suas trilhas sonoras venderam como água. Do LP internacional, destacaram-se hits da era disco, como "Young Hearts Run Free" (Candy Staton), "That´s the Trouble" (Grace Jones), "N.Y. You Got Me Dancing" (Andrea True Connection) e "Dance And Shake Your Tambourine" (Universal Robot Band). E também baladas românticas como "Conversation" (Morris Albert), "Sorrow" (Michael Sullivan), "Piu" (Ornela Vanoni), "Sweet Sounds, Oh Beautiful Music!" (Steve MacLean), "Rainy Day" (Richard Young) e "Sad Songs" (Alessi Brothers).
A trilha nacional é uma verdadeira joia dos sebos de hoje em dia, com sucessos como "Eu Preciso Te Esquecer" (Cláudia Telles), "Desencontro de Primavera" (Hermes Aquino), "Filho Único" (Erasmo Carlos, o tema de Netinho), "Locomotivas" (Rita Lee), "Coleção" (Cassiano), "Voo Sobre o Horizonte" (Azimuth) e "Baby" (numa gravação do Quinteto Ternura) – além de "Maria-Fumaça" (Black Rio), o tema de abertura.
AQUI mais informações sobre "Locomotivas" – história, elenco completo, personagens e núcleos, trilha sonora e outras curiosidades.
Fotos: divulgação.
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Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.