Sotaque fraco e celular vazando não diminuem o prazer de assistir “Novo Mundo”
Nilson Xavier
16/04/2017 07h00
Houve um tempo em que a Globo caprichou (pela qualidade técnica) e abusou (pela quantidade) das produções de época no horário das seis. Os mais variadas períodos da História do Brasil já foram reproduzidos nessa faixa, em tramas de amor originais ou baseadas em obras de nossa Literatura.
"Novo Mundo", a atual novela no horário, não foge à regra. A originalidade está não somente na história (ainda que com fatos e personagens históricos reais), mas também no estilo, que mescla o folhetim com capa-e-espada e aventura.
E o público tem recebido muito bem a trama de Thereza Falcão e Alessandro Marson: são quase 22 pontos no Ibope da Grande São Paulo. Entre as novelas das seis dos últimos anos, com o mesmo tempo no ar (3 semanas), essa média só perde para "Êta Mundo Bom!".
A receita para essa ótima recepção é percebida em alguns fatores: elenco afiado; o apelo de uma trama de aventura bem contada usando alguns personagens históricos conhecidos do público; e produção de primeira (direção artística de Vinícius Coimbra) em cenários, figurinos, fotografia e trilha sonora. Mesmo com o deslize do celular que apareceu em cena nessa semana (leia AQUI).
O elenco se destaca pela quantidade de personagens ricos e carismáticos: Chay Suede e Isabelle Drummond esbanjam química; Letícia Colin vive uma adorável Princesa Leopoldina; Vivianne Pasmanter forma uma dupla deliciosa com Guilherme Piva (Germana e Licurgo); Ingrid Guimarães, excelente como Elvira, agora em um núcleo que promete, o casal Wolfgang e Diara (Jonas Boch e Sheron Menezes), numa versão de Xica da Silva.
Também Rodrigo Simas (Piatã), Agatha Moreira (Domitila), Gabriel Braga Nunes (Thomas), Rômulo Estrela (Chalaça), Roberto Cordovani (Sebastião Quirino), Daniel Dantas (Padre Olinto), Ricardo Pereira e Maria João Bastos (Ferdinando e Letícia). Percebe que são muitos nomes em destaque para apenas três semanas de novela?
Outro dia brinquei no Twitter que os melhores sotaques no elenco eram os dos atores portugueses (Ricardo Pereira, Maria João Bastos, Paulo Rocha e Joana Solnado). De fato, eles variam muito, são muitos atores forçando a fala. Caio Castro tem o sotaque que mais destoa do resto do elenco – visível quando contracena com Rômulo Estrela, por exemplo, que está ótimo.
Já Letícia Colin, é o maior acerto da novela, no sotaque e em todos os sentidos. Faço minhas as palavras do amigo Maurício Stycer em "Como Letícia Colin e sua Leopoldina roubaram a cena em Novo Mundo". Ah, e Vivianne Pasmanter, em uma personagem de menor importância que se agiganta com sua atuação – aqui vale a frase clichê: não existe papel pequeno para um grande ator.
Sobre o autor
Nilson Xavier é catarinense e mora em São Paulo. Desde pequeno, um fã de televisão: aos 10 anos já catalogava de forma sistemática tudo o que assistia, inclusive as novelas. Pesquisar elencos e curiosidades sobre esse universo tornou-se um hobby. Com a Internet, seus registros novelísticos migraram para a rede: em 2000 lançou o site Teledramaturgia (http://www.teledramaturgia.com.br/), cujo sucesso o levou a publicar o Almanaque da Telenovela Brasileira, em 2007.
Sobre o blog
Um espaço para análise e reflexão sobre a produção dramatúrgica em nossa TV. Seja com a seriedade que o tema exige, ou com uma pitada de humor e deboche, o que também leva à reflexão.