Fim de temporada: “Malhação” abordou racismo de maneira superficial e rasa
A temporada "Pro Dia Nascer Feliz" da "Malhação" terminou (nesse dia 3 de maio) como um dos textos mais infelizes já vistos para a "novelinha teen". O autor Emanuel Jacobina emendou duas temporadas: está no ar desde agosto de 2015, quando estreou a trama anterior, "Seu Lugar no Mundo". Só isso explica o desgaste na condução de tantas histórias.
A estreia (em agosto de 2016) prometia uma temporada interessante, que poderia render bem. Porém, ao longo do tempo, a produção foi se perdendo até descambar para a incoerência em tramas e personagens (que mudavam de personalidade de acordo com a exigência do roteiro), entrechos forçados e sem nexo e personagens rasos.
O pior foi a superficialidade na abordagem de questões pretensiosas, como o racismo e a gravidez precoce (já defendidas com mais competência em temporadas anteriores). A mocinha pobre e negra Joana (Aline Dias), que levantaria a bandeira de sua raça ao se deparar com o preconceito e o bullying da irmã, patricinha loura, Bárbara (Bárbara França), sucumbiu fácil e caiu na armadilha do revide.
O máximo que se viu foram meses de brigas, xingamentos e agressões. Tudo muito cansativo e irritante, gratuito, sem sutileza alguma. E sem levar a lugar nenhum, muito menos a uma discussão aprofundada sobre racismo. Serviram apenas para deixar claro a força da atuação de Bárbara França, a maior revelação da temporada, que fazia sumir a interpretação de Aline Dias, revelando assim uma escalação desajustada pela atriz que viveu a protagonista.
O texto ainda derrapou feio em duas falas que resvalaram em preconceito e repercutiram mal. Numa conversa, a personagem Sula (Malu Falangola), recém chegada do Ceará, soltou: "Aqui [no Rio] é tanta gente bonita que tô até com saudade de ver gente feia". Podia servir de combustível para uma discussão sobre xenofobia. Porém, parou ali. A fala, dita dessa forma isolada, causou incômodo.
E no bate-papo entre Giovani (Ricardo Vianna) e a namorada Joana (Aline Dias), ele sugeriu que ela ficasse gorda para que nenhum homem a assediasse (!) No que ela respondeu: "Gorda? Para você me largar?". Para tentar se redimir pela bola-fora, o autor criou uma personagem gorda, desinibida e feliz que discursou sobre o preconceito (vivida por Raquel Fabbri).
Apesar dos pesares, vale destacar o desempenho da veterana Joana Fomm, que marcou presença com uma história relevante sobre a velhice e o Alzheimer. Ainda que uma trama paralela e curta, foi a melhor abordagem da temporada.
"Pro Dia Nascer Feliz" ainda aproveitou o bom momento na audiência da TV em geral, fechando com uma média final de 19 pontos no Ibope da Grande SP, contra 17 da temporada "Seu Lugar no Mundo", 16 de "Malhação Sonhos" (2014-2015) e 14 em "Malhação Casa Cheia" (2013-2014).
Fotos: divulgação/TV Globo.
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